O CRM e as Cinco Forças
Competitivas
Renato Ferrari
O CRM (gestão do relacionamento com os clientes)
utiliza o conhecimento do cliente para gerar valor
para os acionistas. Vale lembrar que CRM tem dois
objetivos estratégicos: ganhar mais dinheiro e
ganhar dinheiro por mais tempo. Se as iniciativas de
CRM de sua empresa não cumprem esses objetivos, está
na hora de propor uma reavaliação. Michael Porter
desenvolveu a teoria das forças competitivas para
avaliar e definir a escolha estratégica mais
adequada para gerar um diferencial competitivo
sustentável e, que proporcione melhores resultados e
garanta a sustentabilidade da organização. As
empresas ainda não vêem a gestão de relacionamento
com os clientes como um dos principais
direcionadores de sua estratégia corporativa, mas
veremos a seguir como CRM pode influenciar
positivamente cada uma das forças competitivas de
uma empresa.
O Poder de
Negociação dos Clientes – Buyer Power
O poder de
negociação dos clientes é diferente dependendo do mercado, se o cliente está
comprando uma commodity como arroz na mercearia, por exemplo, ou se é uma
pequena indústria vendendo a uma rede de hipermercados – o poder de negociação
vai variar muito. O poder depende da barreira de mudança que um cliente tem para
migrar para outro fornecedor, ou seja, o quão inconveniente será essa mudança.
Experimente mudar aquele agente de viagens que sabe todas as suas preferências e
seu histórico de viagens, ou mudar o fornecedor de sua empresa que possui o
sistema de logística operando on-line com o seu. No mínimo você teria de ensinar
ao novo fornecedor tudo de novo, o que gera uma considerável barreira de
mudança. Para aumentar adequadamente as barreiras de mudança é imprescindível
conhecer os clientes. Em um mundo ideal, poderíamos investir tempo e recurso
para conhecer todos, porém, como isso não é possível, a diferenciação da base de
clientes se faz necessária. Assim, é preciso definir quem são os CMVs (clientes
de maior valor) e os CMPs (clientes de maior potencial) de uma empresa. Após a
diferenciação dos clientes a empresa poderá interagir com os clientes certos e,
conhecer suas necessidades para mudar sua atitude com base neste conhecimento.
Isso nada mais é que a personalização da experiência dos clientes, o que gera
uma vantagem competitiva sustentável, pois agora mudar para outro fornecedor é
inconveniente, já que ele precisará ensinar ao concorrente tudo aquilo que a sua
empresa já sabe sobre ele.
O Poder da
Concorrência – The Degree of Rivalry
O
conhecimento dos clientes pode ajudar a enfrentar a concorrência de três formas:
vender mais para os clientes com potencial a ser capturado, manter os CMVs fora
do alcance da concorrência e definir uma estratégia para perder os clientes de
menor valor ou aqueles que geram prejuízo e não têm potencial a ser capturado.
Ao vender mais para o mesmo cliente e diminuir o potencial não-realizado, as
empresas capturam market share dos concorrentes e desenvolvem o SOC (share
of customer – participação no cliente). A devida manutenção dos CMVs, como
comentado acima nas ações do Poder de Negociação dos Clientes, impede que esses
clientes altamente lucrativos migrem para a concorrência. E, por fim, a
estratégia para perder clientes, o que parece estranho, pois estamos sempre
ouvindo que devemos vender mais e mais e “encantar os clientes”. Muitos
clientes, porém, não devem ser “encantados”, ou seja, aqueles de menor valor ou
que geram prejuízo e que também não possuam potencial a ser capturado – esses
podem ser perdidos. A estratégia para perder estes clientes resolve dois
problemas: aumenta a lucratividade da empresa e envia estes clientes para o
concorrente. É preciso atentar para as barreiras de saída do mercado, ou seja, o
quão difícil para uma empresa é deixar um mercado ou nicho, pois quanto mais
difícil maior será a reação da concorrência – ela será obrigada a reagir.
Portanto, o conhecimento do cliente e as barreiras de mudança precisam ser
profundos, vale lembrar que barreiras artificiais – não provenientes do
conhecimento –, como contratos, são frágeis e quando terminam o cliente pode
tranqüilamente migrar para a concorrência.
A Ameaça de Novos
Entrantes – The Threat of New Entrants
Depois de nos
defendermos dos atuais concorrentes, é preciso olhar para os eventuais novos
concorrentes. As barreiras de entrada em um mercado também são afetadas pelo
CRM. Em um mercado onde as empresas têm forte relacionamento com seus clientes e
as barreiras de mudança já estejam devidamente estabelecidas, será muito difícil
para um novo concorrente tentar “roubar” os melhores clientes, pois estes terão
que reinventar a relação com o novo fornecedor e, como vimos anteriormente, isso
não é conveniente. Desta forma os novos concorrentes levarão, eventualmente, os
piores clientes e, portanto pensarão duas vezes antes de entrar neste novo
mercado.
A Ameaça de
Produtos e Serviços Substitutos – The Threat of Substitutes
Normalmente
os substitutos são ignorados pelas empresas. Existem vários exemplos clássicos,
como a indústria de máquinas de escrever e os computadores pessoais e as
garrafas d’água para a indústria de refrigerantes – há alguns anos, nunca
imaginaríamos pagar alguns reais por água engarrafada. Isso acontece devido à
miopia das empresas em relação às reais necessidades de seus clientes e
especialmente de seus clientes de maior valor. O CRM também visa conhecer seus
clientes de tal maneira a poder antecipar as necessidades individuais e de
grupos de clientes, o que auxiliará as empresas a antecipar e a se preparar
contra os possíveis substitutos que possam atender as necessidades mapeadas.
Então, se já minimizamos a força dos novos entrantes e dos substitutos só falta
olhar para os fornecedores.
O Poder de
Negociação dos Fornecedores – Supplier Power
Muito se fala
da integração SCM-CRM (supply chain management – customer relationship
management) e é esta relação que pode equilibrar a força dos fornecedores,
pois quem for o “dono” do conhecimento do cliente poderá prever a demanda com
mais precisão e saber o que e em que quantidade comprar. As indústrias que
possuem o conhecimento do cliente, ou pelo o menos da demanda, conseguem
melhores negociações com seus fornecedores. Os supermercados são um exemplo -
estão longe de conhecer seus clientes de maneira a estabelecer um
relacionamento, mas conhecem a demanda e podem influenciar as compras nos pontos
de venda, o que deixa cada vez mais os fornecedores com menor poder de barganha
nas negociações.
Como vimos o
CRM pode ajudar a diminuir ou aumentar o grau das cinco forças competitivas –
tanto para empresas B2B ou B2C -, por isso comece desde já a analisar sua
empresa sob a ótica de CRM. Se sua empresa for a primeira a utilizar o CRM terá
a vantagem de poder escolher quais clientes manter e quais perder. Porém se seu
concorrente já está fazendo isso, melhor correr, pois você poderá gastar muito
mais recursos para tentar derrubar as barreiras de mudança que já foram
estabelecidas junto aos clientes de maior valor e maior potencial.