Fui Demitido...Nada Poderia Ter
Sido Melhor Para Minha Vida
Gutemberg de Macedo
“Empreender uma carreira de sucesso depende das
respostas que damos aqueles eventos que
acontecem conosco ao longo do
caminho, inclusive a
demissão.”
Gutemberg B. de Macêdo
Converse com qualquer
profissional demitido, Michael Bloomberg, fundador da Bloomberg L.P e atual
prefeito de Nova York, Larry King, Award-Winning Host of CNN”s Larry King Live,
Paulo Leite, diretor presidente da Canavialis (Grupo Votorantim), Sérgio Coelho,
diretor da Novartis, Harvey Mackay, empresário e escritor norte-americano,
Richard C. Mingorance, diretor superintendente da Level Up Interactive S.A.,
Rubens Biselli, diretor superintendente da Bolthouse Farms, José Líbio dos Reis
Cajazeira, diretor do complexo hoteleiro Renaissance (Salvador – BA), João
Alberto Bazzon, gerente geral do Shopping Center Iguatemy, Luciana F. S.
Gherpelli, gerente do Grupo Maggi, sobre seus sentimentos pós-demissão e ouvirá,
inevitavelmente: “No primeiro instante, você fica chocado, paralisado,
confuso, descrente, impotente, inseguro, frustrado, traído, revoltado, rejeitado
e, por vezes, experimenta até mesmo certo tipo de depressão. Entretanto, à
medida que você recupera a sua racionalidade, coloca todas as suas emoções em
ordem e sob controle, toma consciência de que o trabalho não é a sua vida e que
existe vida além de um “box” no organograma de uma organização, por mais
importante que ela seja, a demissão se torna o mais benéfico e transformador
evento da vida de um profissional.”
Um dos testemunhos mais fortes
que ouvi sobre as conseqüências da demissão foi dado por Lee Iacocca,
ex-presidente da Ford Motor Company e ex-chairman e CEO da Chrysler Corporation:
“It was enough to make me want to kill – I wasn’t quite sure who, Henry Ford
or myself. Murder or suicide
were never possibilities, but I did start to drink a little more… I really felt
I was coming apart at the seams.”
A demissão inesperada de Michael
Bloomberg, aos 39 anos de idade, e outros 62 executivos da Salomon Brothers,
empresa norte-americana de investimentos, é um exemplo excepcional dessa
verdade. Ele não apenas mudou a sua vida, mas reescreveu sua história de maneira
totalmente diferente. Ele fundou a
Bloomberg L.P., o mais importante império de informações financeiras do mundo:
“It feeds data nonstop to 126 countries over television channels, radio
networks, magazines, newspapers, and 180,000 computer monitors used by financial
professionals; it generates more than $3 billion in revenues each year.”
Como consultor especializado na
área de Outplacement tenho assistido presidentes, diretores e gerentes das mais
diferentes empresas multinacionais e nacionais ao longo dos últimos 25 anos.
Além disso, tenho estudado, pesquisado, conversado, questionado e pensado,
demorada e profundamente, sobre a demissão, suas causas e conseqüências –
positivas ou negativas –, sobre profissionais. A minha conclusão, expressa em
inúmeros trabalhos – livros, artigos e palestras –, não é diferente – “A
demissão é a melhor coisa que pode acontecer à vida de um profissional.”
Entretanto, tenho de admitir que
poucos profissionais tiram proveito dos benefícios da demissão. Muitos se
recusam a parar para pensar sobre os motivos da demissão, as mudanças que
precisam empreender, i.e., estilo gerencial, hábitos que necessitam cultivar,
aprendizados e saberes que necessitam incorporar, novas competências que carecem
desenvolver, etc. Eles preferem dar continuidade à carreira como se tudo
continuasse da mesma maneira.
Recentemente, fui procurado por
executivo demitido de importante empresa multinacional que desejava conhecer os
serviços profissionais de outplacement da Gutemberg Consultores. Ouvi,
atentamente, sobre sua história profissional e os motivos de sua demissão que
não coincidiam com as informações dadas por seu ex-empregador – “profissional
inábil politicamente e incapaz de se relacionar com pessoas que divergem de sua
maneira de pensar” -, entre outros motivos.
Aproveitei essa oportunidade
para dizer que o processo de outplacement exige um posicionamento diferenciado,
uma mente aberta para ouvir coisas que dificilmente ouviria em sua empresa,
repensar inúmeras questões associadas à carreira, etc. e que essas iam muito
além do preparo para recolocação no mercado de trabalho - levantamento de dados
para confecção de Curriculum Vitae, aprendizado sobre técnicas de entrevista,
negociação salarial, entre outras questões.
O profissional disse ter ficado
impressionado com a riqueza do processo, anotou títulos de livros, que sugeri, e
que tratavam, naturalmente, de problemas associados à sua carreira. Ao se
despedir, prometeu pensar sobre o assunto. Dias depois, ele me telefonou, a fim
de saber se era possível conduzir o processo de Outplacement em outra empresa de
consultoria e tão logo estivesse empregado, contratar os serviços de Coaching
Executivo da Gutemberg Consultores.
Por entender que não fazia
sentido seu questionamento, uma vez que os serviços de outplacement da Gutemberg
Consultores o beneficiaria duplamente, disse-lhe não ser possível contratar
nossos serviços nos termos sugeridos. Ele, educadamente, agradeceu e prometeu
me enviar um livro de presente. Aguardo o cumprimento de sua promessa até hoje.
Meus leitores indagarão: o que
você quer comunicar com esse episódio? A resposta é simples: o profissional não
estava preparado e nem desejava discutir sobre assuntos que fatalmente o
tirariam da “zona de conforto” e, conseqüentemente, provocariam dor. Ele
desejava operacionalizar tão somente a sua recolocação – conquistar um novo
emprego - e não se beneficiar com as lições e aprendizados proporcionados pela
própria demissão e, muito menos, corrigir aqueles pontos que podem comprometer a
estabilidade, sustentabilidade e progresso de sua carreira, hoje e no futuro.
Reconheço que há consultores que
divergem frontalmente de minhas posições e dizem que essa não é a melhor hora
para tratar sobre questões delicadas da carreira e da vida pessoal do executivo,
em virtude da fragilidade psicológica pós-demissão. Isto é, eles preferem que os
profissionais voltem às empresas apenas envernizados e com respostas
superficiais aos problemas identificados, quando são capazes de identificá-los.
É o caminho mais fácil e, certamente, o mais rentável. Todavia, o menos
construtivo da vida e da carreira.
Esse tipo de posicionamento
assemelha-se a do médico que ao receber um paciente enfartado, diz: essa não é a
melhor hora para discutir sobre o problema do paciente, tomar decisões
corajosas, rápidas e, muitas vezes, radicais – submeter o paciente a uma
intervenção cirúrgica –, falar abertamente com sua família sobre a gravidade do
problema, entre outras questões.
Naturalmente, não quero que meus
leitores pensem que desejo, de maneira simplória, polianalesca e irresponsável,
esconder ou mesmo maquiar os seus efeitos sobre os indivíduos. Isto seria
ingenuidade, falta de espírito crítico ou, simplesmente, pura ignorância.
Desejo apenas realçar as lições que os profissionais, homens e mulheres, podem
aprender com ela. Essas lições vão muito além do simples aprendizado sobre a
importância de networking, da elaboração de um curriculum vitae, do aprendizado
sobre técnicas de entrevistas, entre outras coisas. Elas dizem respeito às
verdadeiras mudanças que ocorrem em seu interior – de valores, de atitudes, de
comportamentos, e até mesmo e pensar. Em síntese, uma mudança radical de vida.
O testemunho de Paulo Leite,
citado na abertura deste artigo é um insofismável exemplo de nossa tese: “O
importante neste período é aproveitar o tempo para uma cuidadosa revisão de
vida, que deve ser utilizada para não se repetir os mesmos erros no futuro. E a
volta ao passado deve terminar por aí. As horas (ou seriam dias?) de conversas e
orientações com os competentes profissionais da consultoria têm de ser
cuidadosamente guardadas e aplicadas no dia-a-dia futuro da vida dos executivos
que tiveram essa oportunidade. Deve ser também uma oportunidade valiosa para se
desenvolver novos e saudáveis hábitos, físicos e intelectuais, que contribuam
para melhorar o desempenho na vida profissional e pessoal. Quem souber
aproveitá-la, nunca mais será o mesmo. Nem sua carreira profissional.”
Nesse momento é bom manter
sempre em mente a advertência da sabedoria gerencial norte-americana: “As you
move up the ladder, you´re not paid for what you have done in the past.
You get paid for what you are going
to do in the future.”
Agora, indagamos: Como
transformar a demissão no melhor fato ocorrido em sua vida?
À luz de meus estudos, pesquisas
e experiência, eis algumas sugestões que considero vitais:
Primeiro
– Quando você for demitido, nunca assuma que a demissão é um ato contra você.
Ela representa apenas o julgamento de uma pessoa, seu chefe, e não da
organização como um todo. Portanto, não canalize e nem desperdice suas energias
de maneira negativa. Pense nas palavras de Michael Bloomberg, imediatamente após
sua demissão: “STOP IT RIGHT THERE!
No, I’m not going down that path even in my
mind… Let’s get on with it…. Here’s where you are today.
What do you do next?”
Ou ainda, no conselho dado a
Lee Iacocca por sua mulher: “Don’t ge mad. Get even.”
Segundo –
Aceite a demissão com
naturalidade, como qualquer outro evento de sua vida – nascer, batizar,
estudar, namorar, casar, adoecer, envelhecer, morrer etc.
Muitos profissionais sofrem de
maneira irracional a dor de uma demissão simplesmente porque confundem a vida
com a própria carreira ou trabalho.
A carreira não é a sua vida e a
sua vida não é o seu trabalho. Reflita sobre as palavras da famosa médica
norte-americana, doutora Bernadine Healy ex-presidente da Cruz Vermelha, após
sua demissão: “I did the best I knew how and what I believed to be right for
an organization I came to love.
It was heartbreaking, but I was then, and still am, proud to have served during
that time…”
Terceiro –
Nunca abdique de seus sonhos,
por maiores que sejam os obstáculos a serem vencidos.
Como escrevemos, em trabalho
anterior, em vez de personalizar um acontecimento e tirar conclusões apressadas
e desalentadoras sobre você mesmo ou sobre sua demissão, crie novos sonhos. Você
se tornará aquilo que você pensa. Os profissionais que admiramos são aqueles
que procuram superar os problemas sem nunca perderem a força mágica de seus
sonhos.
Quarto -
Se você é o agente responsável
pela própria demissão, como ocorre com a maioria dos profissionais demitidos,
apesar destes não a reconhecerem publicamente, reconheça-a e não se atenha a
seus erros passados.
Corrija-os e siga em frente. Não
perca tempo olhando para o passado. Os vencedores não olham para trás. Eles
focam apenas o futuro. Medite nas
palavras de Harry Truman, ex-presidente dos Estados Unidos: “ As soon as I
realize I’ve made one dammed fool mistake, I rush out and make another one.”
Quinto –
Veja-se assumindo uma nova
posição, igual ou superior, a que ocupava anteriormente. Trabalhe duro – 12 a 14
horas por dia – e não desperdice qualquer oportunidade que se apresente no
competitivo mercado de trabalho.
Em 2003, assessorei diretor de
importante empresa multinacional norte-americana que no seu primeiro dia de
trabalho me disse: “Gutemberg, você não me terá por muito tempo em seus
escritórios. Planejo ficar com você, no máximo, 30 dias. Esse é o tempo que
estou me dando para relocar-me no mercado.”
Apesar de minha precaução nesses
instantes, desejei-lhe todo o sucesso do mundo e comecei a torcer pela sua
rápida contratação. Para minha surpresa, ele foi contratado pela Avon Cosmetics
para uma posição de diretor, 28 dias após ter iniciado seu processo de
recolocação. O mais incrível, a posição não existia no organograma. Ela estava
apenas na mente de seu presidente.
Casos semelhantes ocorreram em
2004 com vários profissionais de diferentes empresas e posições.
Moral dessas histórias: “The optimist sees
opportunity in every danger; the pessimist sees danger in every oportunity.”
Sexto –
Nunca queime as pontes, por
maior vontade que sinta em destruí-las – “romper com o passado” – após uma
demissão, seja ela bem ou mal conduzida. Você, com toda certeza, necessitará
delas amanhã.
As suas referências, pessoais e
profissionais, fornecidas por seus ex-empregadores são imprescindíveis no
momento da nova contratação. Infelizmente, muitos indivíduos perdem excelentes
oportunidades de trabalho simplesmente porque não dão importância a essa
questão. Nunca se esqueça dessa verdade: seu sucesso dependerá, em grande
parte, de sua reputação – esse é o seu capital mais valioso.
Sétima –
Tire proveito de sua transição e
cresça em todos os ângulos de sua vida – pessoal, profissional, familiar etc.
Ignore o exemplo daqueles
profissionais que, uma vez demitidos, pensam apenas na recolocação, porém não
aprendem absolutamente nada com a demissão. Eles encaram a demissão como algo
negativo e nunca pensam nos benefícios que ela proporciona. E, o pior: eles
voltam, em geral, às empresas, com os mesmos vícios, valores, vulnerabilidades,
estilos gerenciais obsoletos, desprovidos de cultura, humanística e gerencial e
sem que tenham dedicado tempo e reflexão mais aprofundada sobre os motivos da
demissão e que sentimentos e valores agitam e movem sua carreira.
Agora, levante-se e cante a
canção popular, “DESESPERAR,” de autoria de Ivan Lins:
“Desesperar, jamais
Aprendemos muito nesses anos
Afinal de contas não tem
cabimento
Entregar o jogo no primeiro
tempo
Nada de correr da raia
Nada de morrer na praia
Nada, nada, nada de esquecer
No balanço de perdas e danos
Já tivemos muitos desenganos
Já tivemos muito que chorar
Mas agora acho que chegou a hora
de fazer
Valer o dito popular
Desesperar jamais.
www.gutemberg.com.br
MARÇO 2005