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Gutemberg de Macedo, M. Div.

Presidente da Gutemberg Consultores S/C Ltda

Prêmios Top of Mind
2002, 2003 e 2004

Consultor especializado em Outplacement, Executive Coaching e Career Counseling

www.gutemberg.com.br

Fui Demitido...Nada Poderia Ter Sido Melhor Para Minha Vida

Gutemberg de Macedo


    “Empreender uma carreira de sucesso depende das respostas que damos aqueles eventos que acontecem conosco ao longo do caminho, inclusive a demissão.”

                                                        Gutemberg B. de Macêdo

Converse com qualquer profissional demitido, Michael Bloomberg, fundador da Bloomberg L.P e atual prefeito de Nova York, Larry King, Award-Winning Host of CNN”s Larry King Live, Paulo Leite, diretor presidente da Canavialis (Grupo Votorantim), Sérgio Coelho, diretor da Novartis, Harvey Mackay, empresário e escritor norte-americano, Richard C. Mingorance, diretor superintendente da Level Up Interactive S.A., Rubens Biselli, diretor superintendente da Bolthouse Farms, José Líbio dos Reis Cajazeira, diretor do complexo hoteleiro Renaissance (Salvador – BA), João Alberto Bazzon, gerente geral do Shopping Center Iguatemy, Luciana F. S. Gherpelli, gerente do Grupo Maggi, sobre seus sentimentos pós-demissão e ouvirá, inevitavelmente: “No primeiro instante, você fica chocado, paralisado, confuso, descrente, impotente, inseguro, frustrado, traído, revoltado, rejeitado e, por vezes, experimenta até mesmo certo tipo de depressão. Entretanto, à medida que você recupera a sua  racionalidade, coloca todas as suas emoções em ordem e sob controle, toma consciência de que o trabalho não é a sua vida e que existe vida além de um “box” no organograma de uma organização, por mais importante que ela seja, a demissão se torna o mais benéfico e transformador evento da vida de um profissional.”

Um dos testemunhos mais fortes que ouvi sobre as conseqüências da demissão foi dado por Lee Iacocca, ex-presidente da Ford Motor Company e ex-chairman e CEO da Chrysler Corporation: “It was enough to make me want to kill – I wasn’t quite sure who, Henry Ford or myself. Murder or suicide were never possibilities, but I did start to drink a little more… I really felt I was coming apart at the seams.”

A demissão inesperada de Michael Bloomberg, aos 39 anos de idade, e outros 62 executivos da Salomon Brothers, empresa norte-americana de investimentos, é um exemplo excepcional dessa verdade. Ele não apenas mudou a sua vida, mas reescreveu sua história de maneira totalmente diferente. Ele fundou a Bloomberg L.P., o mais importante império de informações financeiras do mundo: “It feeds data nonstop to 126 countries over television channels, radio networks, magazines, newspapers, and 180,000 computer monitors used by financial professionals; it generates more than $3 billion in revenues each year.”   

Como consultor especializado na área de Outplacement tenho assistido presidentes, diretores e gerentes das mais diferentes empresas multinacionais e nacionais ao longo dos últimos 25 anos. Além disso, tenho estudado, pesquisado, conversado, questionado e pensado, demorada e profundamente, sobre a demissão, suas causas e conseqüências – positivas ou negativas –, sobre  profissionais. A minha conclusão, expressa em inúmeros trabalhos – livros, artigos e palestras –, não é diferente – “A demissão é a melhor coisa que pode acontecer à vida de um profissional.”  

Entretanto, tenho de admitir que poucos profissionais tiram proveito dos benefícios da demissão. Muitos se recusam a parar para pensar sobre os motivos da demissão, as mudanças que precisam empreender, i.e., estilo gerencial, hábitos que necessitam cultivar, aprendizados e saberes que necessitam incorporar, novas competências que carecem desenvolver, etc. Eles preferem dar continuidade à carreira como se tudo continuasse da mesma maneira.

Recentemente, fui procurado por executivo demitido de importante empresa multinacional que desejava conhecer os serviços profissionais de outplacement da Gutemberg Consultores. Ouvi, atentamente, sobre sua história profissional e os motivos de sua demissão que não coincidiam com as informações dadas por seu ex-empregador – “profissional inábil politicamente e incapaz de se relacionar com pessoas que divergem de sua maneira de pensar” -, entre outros motivos.

Aproveitei essa oportunidade para dizer que o processo de outplacement exige um posicionamento diferenciado, uma mente aberta para ouvir coisas que dificilmente ouviria em sua empresa,  repensar inúmeras questões associadas à carreira, etc. e que essas iam muito além do preparo para recolocação no mercado de trabalho -  levantamento de dados para confecção de Curriculum Vitae, aprendizado sobre técnicas de entrevista, negociação salarial, entre outras questões.

O profissional disse ter ficado impressionado com a riqueza do processo, anotou títulos de livros, que sugeri, e que tratavam, naturalmente, de problemas associados à sua carreira. Ao se despedir, prometeu  pensar sobre o assunto. Dias depois, ele me telefonou, a fim de saber se era possível conduzir o processo de Outplacement em outra empresa de consultoria e tão logo estivesse empregado, contratar os serviços de Coaching  Executivo da Gutemberg Consultores.

Por entender que não fazia sentido seu questionamento, uma vez que os serviços de outplacement da Gutemberg Consultores o beneficiaria duplamente, disse-lhe não ser possível contratar nossos serviços nos termos sugeridos.  Ele, educadamente, agradeceu e prometeu me enviar um livro de presente. Aguardo o cumprimento de sua promessa até hoje.

Meus leitores indagarão: o que você quer comunicar com esse episódio? A resposta é simples: o profissional não estava preparado e nem desejava discutir sobre assuntos que fatalmente o tirariam da  “zona de conforto” e, conseqüentemente, provocariam dor. Ele desejava operacionalizar tão somente a sua recolocação – conquistar um novo emprego -  e não se beneficiar com as lições e aprendizados proporcionados pela própria demissão e, muito menos, corrigir aqueles pontos que podem comprometer a estabilidade, sustentabilidade e progresso de sua carreira, hoje e no futuro.

Reconheço que há consultores que divergem frontalmente de minhas posições e dizem que essa não é a melhor hora para tratar sobre questões delicadas da carreira e da vida pessoal do executivo, em virtude da fragilidade psicológica pós-demissão. Isto é, eles preferem que os profissionais voltem às empresas apenas envernizados e com respostas superficiais aos problemas identificados, quando são capazes de identificá-los. É o caminho mais fácil e, certamente, o mais rentável. Todavia, o menos construtivo da vida e da carreira.

Esse tipo de posicionamento assemelha-se a do médico que ao receber um paciente enfartado, diz: essa não é a melhor hora para discutir sobre o problema do paciente, tomar decisões corajosas, rápidas e, muitas vezes, radicais – submeter o paciente a uma intervenção cirúrgica –,  falar abertamente com sua família sobre a gravidade do problema, entre outras questões.

Naturalmente, não quero que meus leitores pensem que desejo, de maneira simplória, polianalesca e irresponsável, esconder  ou  mesmo maquiar os seus efeitos sobre os indivíduos. Isto seria  ingenuidade, falta de espírito crítico ou, simplesmente, pura ignorância. Desejo apenas realçar as lições que os profissionais, homens e mulheres, podem aprender com ela. Essas lições vão muito além do simples aprendizado sobre a importância de networking, da elaboração de um curriculum vitae, do aprendizado sobre técnicas de entrevistas, entre outras coisas. Elas dizem respeito às verdadeiras mudanças que ocorrem em seu interior – de valores, de atitudes, de comportamentos, e até mesmo e pensar. Em síntese, uma mudança radical de vida.

 O testemunho de Paulo Leite, citado na abertura deste artigo é um insofismável exemplo de nossa tese: “O importante neste período é aproveitar o tempo para uma cuidadosa revisão de vida, que deve ser utilizada para não se repetir os mesmos erros no futuro. E a volta ao passado deve terminar por aí. As horas (ou seriam dias?) de conversas e orientações com os competentes profissionais da consultoria têm de ser cuidadosamente guardadas e aplicadas no dia-a-dia futuro da vida dos executivos que tiveram essa oportunidade. Deve ser também uma oportunidade valiosa para se desenvolver novos e saudáveis hábitos, físicos e intelectuais, que contribuam para melhorar o desempenho na vida profissional e pessoal. Quem souber aproveitá-la, nunca mais será o mesmo. Nem sua carreira profissional.”

Nesse momento é bom manter sempre em mente a advertência da sabedoria gerencial norte-americana: “As you move up the ladder, you´re not paid for what you have done in the past. You get paid for what you are going to do in the future.”

Agora, indagamos: Como transformar a demissão no melhor fato ocorrido em sua vida?

À luz de meus estudos, pesquisas e experiência, eis algumas sugestões que considero vitais:

Primeiro – Quando você for demitido, nunca assuma que a demissão é um ato contra você. Ela representa apenas o julgamento de uma pessoa, seu chefe, e não da organização como um todo. Portanto, não canalize e nem desperdice suas energias de maneira negativa. Pense nas palavras de Michael Bloomberg, imediatamente após sua demissão: “STOP IT RIGHT THERE!  No, I’m not going down that path even in my mind… Let’s get on with it…. Here’s where you are today. What do you do next?” Ou ainda, no conselho dado a Lee Iacocca por sua mulher: “Don’t ge mad. Get even.”

Segundo – Aceite a demissão com naturalidade, como qualquer outro evento de sua vida – nascer, batizar, estudar,  namorar, casar, adoecer, envelhecer, morrer etc.

Muitos profissionais sofrem de maneira irracional a dor de uma demissão simplesmente porque confundem a vida com a própria carreira ou trabalho.

A carreira não é a sua vida e a sua vida não é o seu trabalho. Reflita sobre as palavras da famosa médica norte-americana, doutora Bernadine Healy ex-presidente da Cruz Vermelha, após sua demissão:  “I did the best I knew how and what I believed to be right for an organization I came to love. It was heartbreaking, but I was then, and still am, proud to have served during that time…”

Terceiro – Nunca abdique de seus sonhos, por maiores que sejam os obstáculos a serem vencidos.

Como escrevemos, em trabalho anterior, em vez de personalizar um acontecimento e tirar conclusões apressadas e desalentadoras sobre você mesmo ou sobre sua demissão, crie novos sonhos. Você se tornará aquilo que você pensa. Os profissionais que admiramos são aqueles que  procuram superar os problemas sem nunca perderem a força mágica de seus sonhos.

Quarto -  Se você é o agente responsável pela própria  demissão, como ocorre com a maioria dos profissionais demitidos, apesar destes não a reconhecerem publicamente, reconheça-a e não se atenha a seus erros passados.

Corrija-os e siga em frente. Não perca tempo olhando para o passado. Os vencedores não olham para trás. Eles focam apenas o futuro. Medite nas palavras de Harry Truman, ex-presidente dos Estados Unidos: “ As soon as I realize I’ve made one dammed fool mistake, I rush out and make another one.”

Quinto – Veja-se assumindo uma nova posição, igual ou superior, a que ocupava anteriormente. Trabalhe duro – 12 a 14 horas por dia – e não desperdice qualquer oportunidade que se apresente no competitivo mercado de trabalho.

Em 2003, assessorei diretor de importante empresa multinacional norte-americana que no seu primeiro dia de trabalho me disse: “Gutemberg, você não me terá por muito tempo em seus escritórios. Planejo ficar com você, no máximo, 30 dias. Esse é o tempo que estou me dando para relocar-me no mercado.”

Apesar de minha precaução nesses instantes, desejei-lhe todo o sucesso do mundo e comecei a torcer pela sua rápida contratação. Para minha surpresa, ele foi contratado pela Avon Cosmetics para uma posição de diretor,  28 dias após ter iniciado seu processo de recolocação. O mais incrível, a posição não existia no organograma. Ela estava apenas na mente de seu presidente.

Casos semelhantes ocorreram em 2004 com vários profissionais de diferentes empresas e posições.

Moral dessas histórias: “The optimist sees opportunity in every danger; the pessimist sees danger in every oportunity.”

Sexto – Nunca queime as pontes, por maior vontade que sinta em destruí-las – “romper com o passado” – após uma demissão, seja ela bem ou mal conduzida. Você, com toda certeza, necessitará delas amanhã.

As suas referências, pessoais e profissionais, fornecidas por seus ex-empregadores são imprescindíveis no momento da nova contratação. Infelizmente, muitos indivíduos perdem excelentes oportunidades de trabalho simplesmente porque não dão importância a essa questão.  Nunca se esqueça  dessa verdade:  seu sucesso dependerá, em grande parte, de sua reputação – esse é o seu capital mais valioso.

Sétima – Tire proveito de sua transição e cresça em todos os ângulos de sua vida – pessoal, profissional, familiar etc.

Ignore o exemplo daqueles  profissionais que, uma vez demitidos, pensam apenas na recolocação, porém não aprendem absolutamente nada com a demissão. Eles encaram a demissão como algo negativo e nunca pensam nos benefícios que ela proporciona. E, o pior:  eles voltam, em geral, às empresas, com os mesmos vícios, valores, vulnerabilidades, estilos gerenciais obsoletos, desprovidos de cultura, humanística e gerencial e sem que tenham dedicado tempo e reflexão mais aprofundada sobre os motivos da demissão e que sentimentos e valores agitam e movem sua carreira.

Agora, levante-se e cante a canção popular, “DESESPERAR,” de autoria de Ivan Lins:

“Desesperar, jamais

Aprendemos muito nesses anos

Afinal de contas não tem cabimento

Entregar o jogo no primeiro tempo

Nada de correr da raia

Nada de morrer na praia

Nada, nada, nada de esquecer

No balanço de perdas e danos

Já tivemos muitos desenganos

Já tivemos muito que chorar

Mas agora acho que chegou a hora de fazer

Valer o dito popular

Desesperar jamais.

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MARÇO 2005


 
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