Negociação: Aprenda a Domar Essa
Fera
Marcos Dutra

Uma das atividades que o executivo médio talvez mais
tema, ao lado da apresentação para grandes
grupos, é o da negociação. Em uma negociação, somos exigidos ao máximo. Por mais
racionais que possamos ser, não dá para escapar daquela sensação que o resultado
da negociação depende inteiramente de nossas habilidades. A emoção e o stress
vão lá para cima. Por isso é importante saber que existe uma metodologia e
técnicas que auxiliam o executivo a se tornar um negociador de primeira sem se
desgastar no processo.
Toda a
negociação passa por três fases: a da coleta de informações, a competitiva e a
cooperativa. Na fase de coleta, o importante é tentar entender ao máximo
quais são as motivações de seu oponente. A palavra é oponente mesmo, porque
apesar de alternativas
win-win (onde todo mundo
ganha) serem possíveis, em geral não se deve esperar uma atitude de parceria
logo no início de uma negociação comercial. Ela precisa ser construída com o
tempo.
O que se
precisa conhecer? Principalmente quais as escolhas possíveis de seu oponente,
sua estratégia, suas forças e fraquezas. O estilo pessoal também é importante: o
oponente tem tendência ao confronto ou é mais paciente? É ansioso ou calculista
? Esta informação é a base da construção de sua estratégia de negociação na
próxima fase. Muitas vezes o nervosismo faz o negociador superestimar as
vantagens do oponente, ou então antecipar uma situação de conflito que pode na
verdade ser prevenida. Ou seja, às vezes a briga é menor do que parece, porque o
objetivo do oponente pode ser uma concessão que seu grupo pode fazer sem maiores
custos. O importante aqui é explorar essas possibilidades. Porém, uma coisa deve
ficar clara: as informações que serão compartilhadas “de graça” devem ser
discutidas e limitadas previamente, para não se perder poder de barganha.
A fase
competitiva sem dúvida é a mais importante e a mais estressante. É aqui que
se enfrentam truques, pressões e persuasão. Daqui para frente o foco não é mais
em se tentar entender o outro, mas em colocar na mesa suas demandas. Porém,
estas demandas vão ser melhor aceitas quando forem racionais e estruturadas. É
importante que você desenvolva argumentos sólidos antes de fazer sua proposta,
se possível baseado em dados e informações de aceitação pública. Ou seja, sua
proposta tem que parecer “justa”. Uma proposta disparatada às vezes é usada como
técnica para desequilibrar emocionalmente o oponente, mas fracassa
redundantemente se aplicada contra um bom negociador, que pode simplesmente se
levantar e deixar a reunião. E sendo você um bom negociador (que eventualmente
vai conseguir um bom resultado), a interrupção do processo deve ser evitada.
Ameaças: Uma técnica
freqüente em negociação é a de ameaças ou conseqüências indesejáveis caso não
haja aceitação da demanda, como por exemplo o clássico “vou levar seu nome ao
SPC caso você não pague”. Aqui valem duas regras: se você for usar uma ameaça,
cumpra-a, ou sua credibilidade vai para o espaço. A segunda, no caso de receber
a ameaça, é chamar o blefe, caso acredite que a ameaça é vazia. Mas sempre tente
substituir a ameaça por uma promessa afirmativa, como forma de motivar o
oponente a aceitar sua posição e desencorajar a posição defensiva (“travar”). No
caso acima seria talvez: vamos trabalhar juntos para limpar seu nome.
Silêncio: Este é um conselho
bom para os latinos e brasileiros em particular. Usar o silêncio é algo que não
praticamos. Quanto mais se fala, mais se revela. Muitas vezes o silêncio pode
ser usado para enfatizar um ponto, como quando o negociador coloca a demanda e
fica quieto. Silêncio também desarma uma série de táticas de negociação,
principalmente aquelas de desestabilização emocional. Também nunca decida sob
pressão de tempo se possível. Em dúvida, espere.
Tenho
que falar com o chefe: esta
é talvez a técnica mais usada no Brasil. A pessoa se recusa a decidir dizendo
que tem que falar com o chefe. O objetivo é cansar o oponente e conseguir
concessões do outro lado, para chegar na última hora, depois da conclusão e
dizer que o chefe quer mais alguma coisa. Ou seja, faz você decidir antes dele.
Uma maneira efetiva de combater esta técnica é, quando confrontado com esta
mudança de planos, dizer que bom que vocês mudaram de opinião, porque também
decidimos que precisamos disto e daquilo (coloque os pontos mais importantes
para você). Rapidamente o oponente vai querer voltar ao acordo inicial.
Evite ao
máximo negociar com alguém sem autoridade, principalmente se esta pessoa quiser
concessões apenas para conseguir que você fale com a pessoa responsável (tática
muito usada desonestamente no governo). Você perde duas vezes.
Desequilíbrio: Outra faceta
do latino. Ele pode ser legítimo ou usado como tática. Se legítimo, aproveite:
pessoas descontroladas às vezes dizem o que não deviam, e você pode conseguir
informação importante. Caso seja usada como tática de intimidação (muito usada
contra mulheres), nunca se descontrole. Você pode simplesmente se retirar da
negociação, deixando claro que não vai ser intimidada, ou deixar claro que raiva
não é uma atitude profissional e que você foi pessoalmente ofendida. A mesma
atitude deve ser usada em relação a pessoas agressivas que interrompem sua fala
ou criam um ambiente desagradável. Não permita. Crie regras para a negociação e
coloque-as na mesa. Diminua o tempo de reunião ou envie pontos de discussão
previamente estabelecidos.
É
Pegar ou Largar: Muitas
vezes negociadores usam esta técnica para apressar uma conclusão favorável. A
reação inicial é de ter sido desrespeitado, mas pense bem: se a oferta for
razoável, aceite e pronto. Por outro lado, esta tática é perigosa de ser
aplicada, porque o oponente muitas vezes simplesmente a rejeita por orgulho.
Good
Cop / Bad Cop (o bonzinho e
o malvado): esta tática é usada para conseguir empatia emocional através do
negociador “bonzinho” do grupo enquanto o “malvado” consegue as concessões.
Primeiro considere se a situação não é simplesmente natural; às vezes isso
ocorre. Se não for, mostre que você percebeu o esquema e peça que os oponentes
se resolvam antes de negociar com você. Na maioria das vezes a exposição da
tática é suficiente para desarmá-la.
João-Sem-Braço: tática muito
usada em reuniões entre áreas da mesma empresa, onde o negociador é
passivo-agressivo, “esquecendo” de trazer os documentos necessários, chegando
atrasado, etc. A intenção é fazer o oponente cansar e desistir, especialmente se
ele tem alguma demanda justa. A solução neste caso é tomar o controle: faça
cópias duplas dos documentos, faça a agenda, faça um rascunho do acordo e
coloque na frente do João-Sem-Braço. Você vai ver que de repente ele acorda.
Finalmente, existe uma fase de conclusão, ou cooperativa. Aqui é onde é
possível se incrementar a satisfação de ambos os oponentes através de concessões
que não tenham custos para você, o famoso win-win. É vital para que haja
um relacionamento construtivo, que a fase competitiva seja encerrada antes desta
conversa.
Existem
diversas outras técnicas efetivas em negociação, mas uma que pessoalmente tenho
utilizado com freqüência é: nunca se apaixone por uma escolha. Ou seja, esteja
preparado a abrir mão daquilo que quer, ou o oponente vai pedir o quanto quiser
por ela. Vendedores sabem fazer isso bem. Às vezes na vida a gente quer mesmo
alguma coisa...então vá em frente, mas saiba o que está fazendo !
MAIO
2005
Referências:
Negotiation – Lewicki, Saunders, Minton – McGraw Hill, 1999