
Helení Passos
Bacharel em comunicação social
- habilitação em propaganda e publicidade,
formada em julho de 1989. Hoje tem 39 anos e é diretora de planejamento da
Salem, onde está desde setembro de 2000. Contato: heleni@salem.com.br
Maio 2005 |
Massa + Exclusividade =
Massclusivity
Helení Passos
Pense nos termos:
Massa e Exclusividade. O que aparece na sua mente em
primeiro lugar?
Posso arriscar que para a maioria das pessoas, a
palavra massa (depois de macarrão) significa alta
escala, commodities, enquanto que exclusividade é um
benefício restrito aos poucos que podem pagar por
ela, os especiais. Paradoxal vê-los juntos?
O fato é que ao longo do último século, as empresas
cresceram usando a estratégia de Henry Ford, onde o
segredo do sucesso é vender muito e fabricar barato
através da padronização. Quando declarou que seus
carros viriam em qualquer cor que os clientes
quisessem, contanto que fossem pretos, Ford defendia
que os indivíduos queriam apenas automóveis para
rodar mais liberdade. Assim, acreditou-se por longos
anos que o consumidor era um bloco homogêneo
interessado em ter acesso aos produtos restritos
pela produção artesanal... Era mesmo?!
As bases para obter escalabilidade e globalização
foram plantadas desde o começo do século 20 e suas
sementes cresceram vigorosas em todas as áreas: na
indústria dos bens de consumo, dos bens duráveis,
dos serviços, da comunicação e até do entretenimento
como o cinema. Tudo passou a ser rigorosamente
controlado pelas “linhas de montagens” para garantir
alta eficiência, alta qualidade e muita
homogeneidade. E para impulsionar as vendas de
tantos produtos iguais, a propaganda passou a ser a
melhor forma de comunicação com milhares de
consumidores ao mesmo tempo: o menor custo de
atingimento unitário. Números?! Pois esses números
construíram um mundo imerso no "made in China",
ícone da sociedade de massa onde vivemos atualmente.
Entretanto, quanto mais esse homem compra, mais
inovações ele passa a desejar. Consumir é um vício
psicológico que consolida a escalada pela pirâmide
de Maslow. Novas necessidades são criadas para que
se compre mais. Instala-se o círculo virtuoso do
consumo: quanto mais se compra, mais se quer
comprar.
Um círculo virtuoso, entretanto, é um círculo em
movimento constante. E constante não significa
igual, no mesmo lugar. Lembra-se da força
tangencial? Aquela que pressiona os objetos para
fora do círculo? Então, é a sua pressão que fez o
homem escapar pela tangente da “mesmice” de usar
tudo igual a todo mundo.
Não basta mais ter o que todos têm, aliás, é preciso
ter exatamente o que ninguém tem ainda. E cada vez
mais atento ao diferente, cada vez mais cansado do
tudo igual, o homem redescobre na virada do século
21 que pode ser novamente o centro do universo, tendo todos os
“planetas” (ou melhor fabricantes!) girando ao seu
redor, como imaginado por Cláudio Ptolomeu no começo
da humanidade. Está aqui instalada a alta
competitividade, onde ser bom,bonito e barato não
bastam mais, e tão pouco vender no preço certo, na
hora certa e no lugar certo. É preciso ainda mais! E
na busca por diferenciais a produção de massa
estimula a exclusividade.
Paradoxal ou não, o termo Massclusivity ilustra uma
tendência que está se consolidando e promete
entregar a produtos personalizados. Criado pela
Trendwaching visite a página www.trendwatching.com/trends/MASSCLUSIVITY , uma
organização que monitora as grandes tendências do
comportamento do consumidor, a sociedade não quer
mais comprar um Ford modelo T preto para apenas
rodar pela cidade, mas ter estilo próprio no seu
passeio, ser reconhecido como único, valorizado e
DIFERENCIADO. Comportamento naturalmente usado em
alguns segmentos como automóveis, moda e artigos de
luxo, a “massclusividade” (já aportuguesando o
termo), começa a ganhar força em produtos
tipicamente de massa.
No Brasil, encontramos os índicios do
“Massclusivity” na nova linha da Brastemp. Entre no
site da www.brastemp.com.br e observe a linha
“Brastemp You”. Por muitos anos os blocos brancos
dominaram a cozinha e escravizaram os decoradores e
arquitetos que tinham de submeter-se a sua vontade.
Agora (com preços menos módicos e ainda garantindo
uma certa exclusividade para quem pode pagar) a
Brastemp disponibiliza versões “personalizadas” de
seus produtos. Uma grande evolução!
Pela “home” do site (verificado em 05/05/05),
pode-se perfeitamente ver o discurso do
“Massclusivity” :
O cliente escolhe as cores e até a estrutura interna
de prateleiras para melhor atender às suas
necessidades.
Internacionalmente o “Massclusivity” lança suas
garras sobre o consumidor muito antes do Brasil.
Desde 2002, algumas empresas no mundo iniciaram
investidas pela exclusividade para massa. O site da
Nike nos E.U.A. já entrega tênis personalizado há
muito tempo. Foi uma das empresas pioneiras a
utilizar a internet para venda de produto
customizado.
Assim, percebe-se que as empresas, num processo sem
retorno, estão abusando da segmentação para conhecer
seus consumidores e se aproximar deles tanto na
comunicação como no desenvolvimento de novos
produtos. E não foi à toa que estratégias como CRM (customer
relationship management) rapidamente viraram uma
febre dentro das áreas de marketing. Indo muito além
da antiga personalização do marketing direto, a
comunicação começa a ser dirigida, customizada no
conteúdo e individualizada nas ofertas. Até mesmo a
revista Exame publicou um anúncio “personalizado”
com o nome de cada dos assinantes.
Bag the only one
Uma bolsa por dia. É este o conceito. Uma bolsa com
a data de criação e assinatura do designer Sabine
Fasching, É para ser usada em apenas um único dia.
(fonte:
http://www.springwise.com/newsletter/previous_16.html)
Os exemplos acima tratados significam o início de um
novo momento nas relações de consumo: o surgimento
de um consumidor mais ciente do seu poder de compra.
Um consumidor que não comprará mais um produto em si
mesmo, mas o estilo que vier a ele agregado.
Compra-se intangíveis... pois os produtos já não
valem mais nada!?
E a tecnologia que “se vire” para continuar
produzindo em alta escala e baixo custo, mas agora
com exclusividade.
MAIO
2005
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