Motoboys do Atendimento
Cláudio Vilela
Quem mora em São Paulo ou em qualquer grande cidade
já vivenciou a fenômeno motoboy. De repente, do
nada, surge aquele ser de outro planeta com o sempre
presente bip-bip de sua buzina.
O que está por trás do bip-bip do
motoboy é a sua forma de ganhar dinheiro. Quanto mais entregas faz, mais ganha.
E nessa toada maluca, se expõe e nos expõe quotidianamente a um seguido risco.
Qualquer experiência entre o
motoboy e um atendente de serviço a consumidor não é mera coincidência.
Na verdade, sou capaz de apostar
que qualquer dos leitores vivenciour, nos últimos meses, uma experiência
desagradável com serviço de atendimento de grandes empresas onde, ao contrário
do usual, o rabo tem abanado o cachorro. Ou seja, o consumidor vira réu e tem
que prestar contas ao atendimento.
Quantas vezes o atendente dispara a
matraca, não ouve o que o consumidor tem a dizer e não consegue compreender o
problema que tem que ser resolvido.
E, acho, cheguei a uma singela
explicação desse fenômeno: os serviços de atendimento, terceirizados, foram
“possuídos” por um mau espírito. O espírito dos motoboys suicidas.
E, faço questão de realçar, esse
fenômeno é recente (pós terceirização) e generalizado. Quem é que, recentemente,
não teve problemas não solucionados por um atendente de uma companhia de
telefones, de tv a cabo, de serviços de internet?
Pois é. Ao que parece, os sistemas
de atendimento ao consumidor adotaram o sistema de gestão das empresas de
motoboy. Ou seja, quanto mais entregas, melhor. Não importa o risco que estão
causando ao consumidor ou à empresa que os contrata.
Aparentemente, seria simples a
solução. Troque o motoboy. Ou seja, demita o atendente ou troque de empresa de
atendimento. Aparentemente.
Porque as raízes desse fenômeno
estão, literalmente, mais embaixo.
De um lado, com a baixa remuneração
dos atendentes, este não tem mais o receio de ser demitido (porque o amor à
camisa da empresa já não existe há muito tempo). É conhecida a alta rotatividade
nas empresas de call center ou de telemarketing. Ou seja, o atendente, como o
motoboy, não tem o medo de morrer que nós que cuidamos desses serviços nas
grandes empresas tem.
De outro, a nossa capacidade de
gerenciar um serviço desse tipo, terceirizado parece não ter chegado nos níveis
desejados.
E qual o impacto disso nos
negócios? Bom, vamos por analogia.
Suponha uma grande empresa de
serviços que depende desse tipo de serviço para atender seus potenciais ou reais
clientes.
A empresa investe milhões em
propaganda, posicionando a marca. Investe outros tantos milhões em promoção. E
economiza no call center.
Mas, o call center é a “loja” dessa
empresa de serviços. É onde a compra acontece. É como se um grande varejista
investisse os tubos em propaganda e a experiência do consumidor na loja fosse
desconectada dessa propaganda.
Nos serviços é a mesma coisa. O
Atendimento é a continuidade da mensagem (volto ao assunto em outro artigo). Só
que o cuidado com o atendimento não tem o charme do cuidado da propaganda.
E, nesse meio tempo, tasca
experiência desagradável para o cliente e para o “prospect”. Que descontente,
muda de fornecedor. Se houver um...
E voltamos ao círculo vicioso. Mais
investimento em propaganda e em promoções. Quando talvez a solução fosse muito
mais barata e muito tangível: o proporcionar ao tal do cliente uma experiência
inesquecível no atendimento. Um cliente que não passa pelo desgaste do
atendimento talvez seja muito mais fiel a uma empresa do que um cliente muitas
vezes impactado por um comercial de tv.
Por isso, acredito verdadeiramente
que uma das saídas mais simples para resolver o problema de attrition, churn ,
cancelamento (ou qualquer que seja a denominação) é investir um pouco mais de
tempo da administração na construção de um serviço de atendimento que
proporcione uma experiência positivamente relevante para o consumidor.