Sinceridade no Marketing
Marcos Dutra
Os famosos marketeiros Ries & Trout colocam em seu livro "As 22
Leis Imutáveis do Marketing" uma dica que chamam da Lei da Sinceridade. Se você
gerencia um produto que tem uma fraqueza óbvia, não tente escondê-la, mas abra o
jogo com o consumidor, use humor e tente mostrar que as qualidades do produto
superam esse problema.
Um dos exemplos que ele dá é o famoso slogan da locadora Avis, a
segunda maior do mercado "somos a número dois, por isso nos esforçamos mais", ou
"com um nome como Smucker's, temos que ser muito bons".
Seth Godin, o novo guru do marketing que escreveu os maiores
best-sellers da década, como o Purple Cow e o Permission Marketing, agora traz a
mesma idéia em um novo livro chamado "Todo Marketeiro é Mentiroso", onde ele
afirma que o mercado está tão cínico e cansado de mentiras que a única
estratégia eficaz daqui para a frente é a honestidade. Se contarmos o fato que a
internet permite que os consumidores troquem experiências e recomendações sobre
os produtos nos sites, vemos que não dá mesmo para enrolar mais ninguém.
Mudando de canal para o Brasil, o que vemos? Três campanhas ao
mesmo tempo contradizendo esta regra simples e clara.
A primeira é a do Unibanco, que prega: "Nem Parece Banco". Como
não parece banco? Até o nome tem banco no meio. As agências são iguais às dos
outros bancos, assim como os serviços. Nenhuma pessoa no Brasil vai acreditar
que o Unibanco não parece banco.
A explicação óbvia é que a categoria dos bancos deve estar com
uma imagem ruim no mercado. Portanto a solução é negar que o banco seja um
banco. É claro que eles tentam passar na campanha algumas vantagens que o banco
teria sobre os outros, mas a assinatura tira toda a credibilidade que é
essencial para se conquistar o cliente. Se o banco não consegue assumir que é um
banco, como vamos acreditar no resto das promessas ? Comunicação é
essencialmente uma técnica que usa psicologia, e reações inconscientes têm que
ser levadas em consideração.
A segunda é a do novo celular Nokia dobrável. A Nokia tem sido
criticada por ter perdido mercado devido à falta de um modelo dobrável, o que
acabou afetando até o preço de suas ações. Muito bem, agora eles lançaram um. A
campanha é até original, focada em um concurso de origami ou dobraduras de
papel. Porém, a assinatura põe tudo a perder: "Não Tem Nada Igual". Como não tem
nada igual ? Eu já tive celulares dobráveis há vários anos. Entre em qualquer
loja e confira o fato que todos os concorrentes têm celulares dobráveis há muito
tempo. Esta assinatura, além de tratar o consumidor como estúpido, não agrega
nenhuma vantagem ao produto. Não dá nenhuma razão para se comprar o Nokia ao
invés de qualquer um dos outros dobráveis.
A terceira á a do Fox, o
carrinho da Volkswagen. Toda a campanha é focada em mostrar que o carro é grande
e que o consumidor está sofrendo de uma alucinação visual. Mais uma vez, dá para
entender a preocupação da empresa em mostrar que o carro é mais confortável do
que parece. Mas para isso, existe uma técnica melhor, chamada de "trial".
Promove-se um test drive em massa. Coloca-se o carro dentro de shopping centers
e convida-se as pessoas a entrarem nele. Agora, dizer que o carro é gigante,
colocar uma modelo de 2 metros de altura no comercial e querer convencer o
público que aquele é o carro que ela escolheria para ter é tratar o consumidor
como um idiota. Mais fácil seria colocar um elefante de computação gráfica
entrando no Fox.
É uma
pena, porque talvez até exista um nicho para carros ágeis e pequenos que a
campanha não explora por causa dessa ilusão de grandeza. Lembro-me da excelente
campanha do lançamento do Fiat 147: o carro era apresentado como um carro
europeu pequeno e prático, de gente inteligente, que não ligava para status mas
ligava para a vida. Hoje esse posicionamento poderia incluir a ecologia:
um carro pequeno é um carro amigo da natureza. Que queda de qualidade nossa
propaganda sofreu nesses últimos 20 anos !
Para concluir, esta tendência de mercado, criada pelo desespero
da falta de idéias, cria uma boa oportunidade para você: posicione seu produto
honestamente, seja sincero com o consumidor e aproveite para colher os frutos de
um bom relacionamento baseado na confiança.