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Guido Laube é um dos maiores especialistas brasileiros em cosmetologia, tendo desenvolvido cosméticos e produtos de higiene pessoal  em diversas empresas multinacionais e nacionais Atualmente dirige uma consultoria no mercado de cosméticos e higiene em Curitiba.

guidolaube@hotmail.com

Junho 2005


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Marketing & Perfume (Parte 1)

Guido Laube


Quais serão os mecanismos de ação de um perfume para ele transmitir tantas sensações e emoções? E tornar-se um dos mais cobiçados objetos de desejo de todos os tempos?

Todo este processo emocional começa no nariz. A percepção do perfume envolve um dos mais fiéis sentidos do homem, o Olfato. É através dele que identificamos e registramos a presença de qualquer substância odorífera.

O nariz humano é revestido internamente por uma membrana, sob a qual, na parte superior de cada narina, localizam-se as papilas olfativas. Em contato com alguma substância odorífera, estas papilas enviam impulsos nervosos que são decodificados e registrados no sistema límbico cerebral, a área das nossas emoções.

Armazenadas no cérebro, que tem capacidade para registrar até mais de 100 milhões de estímulos diferentes, as impressões captadas pelo olfato constituem a nossa memória olfativa. Desta forma conseguimos identificar objetos e associar odores a episódios ou acontecimentos e podemos lembrar de um fato ou de uma pessoa através do odor.   

Quando sentimos uma substância odorífera a intensidade dos seus estímulos depende do seu grau de volatilidade, pois o meio de propagação dela é o ar. Assim não havendo difusão no ar ela permanecerá pouco evidente ou até imperceptível. A percepção depende ainda da nossa capacidade olfativa que se apresenta em diferentes graus, de pessoa para pessoa, sendo que algumas são dotadas de extraordinária sensibilidade olfativa, outras são bem menos sensíveis. Os perfumistas são estas pessoas privilegiadas que possuem a sensibilidade desenvolvida que pode ser educada e treinada para atuar com todo seu potencial.

É importante notar que um mesmo perfume produz efeitos sensoriais diferentes em cada pessoa pois, assim como a música, quando chega ao ser humano pelos canais físicos e materiais dos sentidos seu processamento no interior das pessoas tem muito a ver com as conotações transcendentais e emocionais da imaginação.

Perguntamos, então, como e onde começou esta maravilhosa arte, meio arte meio ciência, que encanta e enfeitiça e que faz parte do nosso dia a dia.

A origem da palavra perfume é o latim: “per” significa através e “fumus” quer dizer fumaça. Portanto perfume é sentir através da fumaça ou encher de fumaça, isto porque originalmente, assim que o homem descobriu como fazer fogo, os chamados perfumes eram feitos pela queima de arbustos, flores, resinas, incensos que assim exalavam intenso aroma.      

Inicialmente, desde os tempos mais remotos, os perfumes se relacionavam com rituais e cerimônias religiosas. Os povos orientais usavam madeiras e resinas aromáticas como oferenda aos seus deuses.

Nos tempos bíblicos se falava nas queimas de incenso (mistura de resinas aromáticas, ccmo sândalo, estoraque, benjoim) e especiarias e nos ungüentos preparados segundo a tradição mosaica e que foram os precursores da antiga perfumaria. Moisés proclamou Aaron, grande sacerdote, para que se encarregue de queimar todas as manhãs e todo entardecer o incenso.

O Egito foi a cultura mesopotâmica que na Antiguidade mais se destacou na arte da perfumaria e da cosmética. Os sacerdotes tinham seus “laboratórios” instalados em dependências dos templos onde elaboravam os ungüentos e aromas. Madeiras de uma variedade de árvores coníferas da África e Arábia que continham mirra (resina muito aromática) eram finamente trituradas e misturadas com azeite de oliva para serem  queimadas nos templos durante as cerimônias ritualísticas.  

O uso de produtos perfumados chegou ao esplendor da Grécia onde, segundo a tradição de Homéro, eram considerados como presentes dos  deuses do Olimpo. Como curiosidade mencionamos que Sócrates era contra o uso já Diógenes gostava de perfumar os pés e dizia: “se passar perfume nos pés, o odor chega ao meu nariz, se passar na cabeça somente os pássaros poderão sentí-lo”.

A grande contribuição dos gregos para a perfumaria foi aplicar sua arte aos frascos de cerâmica que até hoje não foram superados em beleza.

No anfiteatro romano o ar ambiente era constantemente purificado, durante os espetáculos, fazendo-se escorrer das fontes de mármore, águas perfumadas com óleos essencias. Nero, durante seus banquetes, mandava soltar pétalas de rosas sobre seus convidados e pombas com as asas perfumadas para espalhar seu aroma através dos salões. O uso de perfumes e ungüentos chegou a se converter em abuso e exagero. Em Roma, além das pessoas se perfumavam os teatros, as vestimentas, o vinho, os estandartes de guerra e até os cavalos dos nobres, além das oferendas aos deuses nas cerimônias religiosas. Nesta época os perfumistas de Roma tinham pequenas barracas em um bairro chamado “Vicus unguentarum” onde vendiam seus perfumes e ungüentos.

O Evangelho descreve um vaso de alabastro contendo um arratel (cerca de 430 gramas) de ungüento de nardo (planta aromática), o mais raro e valioso perfume da antiguidade que ungiu os pés e a cabeça de Jesus e que José, filho de Jacob, foi vendido por seus irmãos a mercadores de essências.

Com a queda do império romano e a expansão do cristianismo, que pregava a austeridade e a moderação nos costumes, também caiu o desenvolvimento da perfumaria, que ficou restrita às cortes de alguns reis e castelos de alguns nobres. 

No Oriente, o império Bizantino, herdeiro de Roma, passou a se dedicar à arte da perfumaria e desenvolveu uma indústria importante, talvez mais importante que a própria Roma pelo fato de estar mais próximo das matérias primas. Da Arábia, conhecida como “a terra dos perfumes”, chegavam até o Mediterrânio as caravanas de camelos que, atravessando o deserto, transportavam o incenso e as essências para os mercados do Ocidente. Foi durante a Idade Média na Arábia e na Índia que surgiram os primeiros perfumistas. Por acaso descobriram os princípios básicos da destilação a vapor (precorsor dos alambiques) enquanto pesquizavam poções medicinais com flores e madeiras aromáticas, o que deu origem mais tarde a obtenção de muitos óleos essenciais e principalmente a fabricação do alcool etílico, conhecido como “espírito de vinho”, a matéria prima essencial para a futura fabricação de perfumes.

Os óleos essenciais e especiarias para os perfumes europeus eram originários do Oriente e somente após as Cruzadas a arte da perfumaria transferiu-se do seu berço oriental para a Europa, especialmente para a França , Alemanha e Inglaterra. Foi nestes países que a arte da perfumaria foi aperfeiçoada, onde se desenvolveram novas técnicas de cultivo, colheita de plantas aromáticas e processos de extração dos óleos essenciais.

A partir do Renascimento, Veneza e Florença se tornaram as capitais dos perfumes. Foram  recuperadas as formulas das antigas composições e a arte da perfumaria voltou a brotar com força na Europa. Quando Catarina de Médicis foi à França para casar-se com Henrique II trazia entre seu seqüito seu perfumista particular, Renato de Florencia, que ao chegar a Paris abriu com grande exito um comércio de perfumes.

A França passa a ser o império dos perfumes. As cortes dos reis, em particular as de Luiz XIV e Luiz XV, se convertem em grandes consumidores de essências, um pouco obrigados porque o odor dos perfumes era necessário para dissimular a falta de higiene e os maus cheiros tão generalisados da época. Durante a revolução francesa o emergente mercado da perfumaria ficou paralisado. Um novo aroma se tornou moda e recebeu o nome de “Guillotine”, um enorme sucesso de vendas para as revolucionárias, chamadas “sans culotte”. Com a ascenção de Napoleão ao trono da França começou uma nova era para os perfumes. Os perfumistas que até então eram simples artesãos montaram seus laboratórios industrias e deram o grande impulso que, com o tempo, transformaria a perfumaria na extraordinária e dinâmica indústria mundial.

 

 
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