Marketing & Perfume (Parte 1)
Guido Laube
Quais serão os mecanismos de ação de
um perfume para ele transmitir tantas sensações e
emoções? E tornar-se um dos mais cobiçados objetos
de desejo de todos os tempos?
Todo este
processo emocional começa no nariz. A percepção do perfume envolve um dos mais
fiéis sentidos do homem, o Olfato. É através dele que identificamos e
registramos a presença de qualquer substância odorífera.
O nariz humano é
revestido internamente por uma membrana, sob a qual, na parte superior de cada
narina, localizam-se as papilas olfativas. Em contato com alguma substância
odorífera, estas papilas enviam impulsos nervosos que são decodificados e
registrados no sistema límbico cerebral, a área das nossas emoções.
Armazenadas no
cérebro, que tem capacidade para registrar até mais de 100 milhões de estímulos
diferentes, as impressões captadas pelo olfato constituem a nossa memória
olfativa. Desta forma conseguimos identificar objetos e associar odores a
episódios ou acontecimentos e podemos lembrar de um fato ou de uma pessoa
através do odor.
Quando sentimos
uma substância odorífera a intensidade dos seus estímulos depende do seu grau de
volatilidade, pois o meio de propagação dela é o ar. Assim não havendo difusão
no ar ela permanecerá pouco evidente ou até imperceptível. A percepção depende
ainda da nossa capacidade olfativa que se apresenta em diferentes graus, de
pessoa para pessoa, sendo que algumas são dotadas de extraordinária
sensibilidade olfativa, outras são bem menos sensíveis. Os perfumistas são estas
pessoas privilegiadas que possuem a sensibilidade desenvolvida que pode ser
educada e treinada para atuar com todo seu potencial.
É importante
notar que um mesmo perfume produz efeitos sensoriais diferentes em cada pessoa
pois, assim como a música, quando chega ao ser humano pelos canais físicos e
materiais dos sentidos seu processamento no interior das pessoas tem muito a ver
com as conotações transcendentais e emocionais da imaginação.
Perguntamos,
então, como e onde começou esta maravilhosa arte, meio arte meio ciência, que
encanta e enfeitiça e que faz parte do nosso dia a dia.
A origem da
palavra perfume é o latim: “per” significa através e “fumus” quer dizer fumaça.
Portanto perfume é sentir através da fumaça ou encher de fumaça, isto porque
originalmente, assim que o homem descobriu como fazer fogo, os chamados perfumes
eram feitos pela queima de arbustos, flores, resinas, incensos que assim
exalavam intenso aroma.
Inicialmente,
desde os tempos mais remotos, os perfumes se relacionavam com rituais e
cerimônias religiosas. Os povos orientais usavam madeiras e resinas aromáticas
como oferenda aos seus deuses.
Nos tempos
bíblicos se falava nas queimas de incenso (mistura de resinas aromáticas,
ccmo sândalo, estoraque, benjoim) e especiarias e nos ungüentos
preparados segundo a tradição mosaica e que foram os precursores da antiga
perfumaria. Moisés proclamou Aaron, grande sacerdote, para que se encarregue de
queimar todas as manhãs e todo entardecer o incenso.
O Egito foi a
cultura mesopotâmica que na Antiguidade mais se destacou na arte da perfumaria e
da cosmética. Os sacerdotes tinham seus “laboratórios” instalados em
dependências dos templos onde elaboravam os ungüentos e aromas. Madeiras de uma
variedade de árvores coníferas da África e Arábia que continham mirra
(resina muito aromática) eram finamente trituradas e misturadas com azeite de
oliva para serem queimadas nos templos durante as cerimônias ritualísticas.
O uso de produtos
perfumados chegou ao esplendor da Grécia onde, segundo a tradição de Homéro,
eram considerados como presentes dos deuses do Olimpo. Como curiosidade
mencionamos que Sócrates era contra o uso já Diógenes gostava de perfumar os pés
e dizia: “se passar perfume nos pés, o odor chega ao meu nariz, se passar na
cabeça somente os pássaros poderão sentí-lo”.
A grande
contribuição dos gregos para a perfumaria foi aplicar sua arte aos frascos de
cerâmica que até hoje não foram superados em beleza.
No anfiteatro
romano o ar ambiente era constantemente purificado, durante os espetáculos,
fazendo-se escorrer das fontes de mármore, águas perfumadas com óleos essencias.
Nero, durante seus banquetes, mandava soltar pétalas de rosas sobre seus
convidados e pombas com as asas perfumadas para espalhar seu aroma através dos
salões. O uso de perfumes e ungüentos chegou a se converter em abuso e exagero.
Em Roma, além das pessoas se perfumavam os teatros, as vestimentas, o vinho, os
estandartes de guerra e até os cavalos dos nobres, além das oferendas aos deuses
nas cerimônias religiosas. Nesta época os perfumistas de Roma tinham pequenas
barracas em um bairro chamado “Vicus unguentarum” onde vendiam seus perfumes e
ungüentos.
O Evangelho
descreve um vaso de alabastro contendo um arratel (cerca de 430 gramas) de
ungüento de nardo (planta aromática), o mais raro e valioso perfume da
antiguidade que ungiu os pés e a cabeça de Jesus e que José, filho de Jacob, foi
vendido por seus irmãos a mercadores de essências.
Com a queda do
império romano e a expansão do cristianismo, que pregava a austeridade e a
moderação nos costumes, também caiu o desenvolvimento da perfumaria, que ficou
restrita às cortes de alguns reis e castelos de alguns nobres.
No Oriente, o
império Bizantino, herdeiro de Roma, passou a se dedicar à arte da perfumaria e
desenvolveu uma indústria importante, talvez mais importante que a própria Roma
pelo fato de estar mais próximo das matérias primas. Da Arábia, conhecida como
“a terra dos perfumes”, chegavam até o Mediterrânio as caravanas de camelos que,
atravessando o deserto, transportavam o incenso e as essências para os mercados
do Ocidente. Foi durante a Idade Média na Arábia e na Índia que surgiram os
primeiros perfumistas. Por acaso descobriram os princípios básicos da destilação
a vapor (precorsor dos alambiques) enquanto pesquizavam poções medicinais com
flores e madeiras aromáticas, o que deu origem mais tarde a obtenção de muitos
óleos essenciais e principalmente a fabricação do alcool etílico, conhecido como
“espírito de vinho”, a matéria prima essencial para a futura fabricação de
perfumes.
Os óleos
essenciais e especiarias para os perfumes europeus eram originários do Oriente e
somente após as Cruzadas a arte da perfumaria transferiu-se do seu berço
oriental para a Europa, especialmente para a França , Alemanha e Inglaterra. Foi
nestes países que a arte da perfumaria foi aperfeiçoada, onde se desenvolveram
novas técnicas de cultivo, colheita de plantas aromáticas e processos de
extração dos óleos essenciais.
A partir do
Renascimento, Veneza e Florença se tornaram as capitais dos perfumes. Foram
recuperadas as formulas das antigas composições e a arte da perfumaria voltou a
brotar com força na Europa. Quando Catarina de Médicis foi à França para
casar-se com Henrique II trazia entre seu seqüito seu perfumista particular,
Renato de Florencia, que ao chegar a Paris abriu com grande exito um comércio de
perfumes.
A França passa a
ser o império dos perfumes. As cortes dos reis, em particular as de Luiz XIV e
Luiz XV, se convertem em grandes consumidores de essências, um pouco obrigados
porque o odor dos perfumes era necessário para dissimular a falta de higiene e
os maus cheiros tão generalisados da época. Durante a revolução francesa o
emergente mercado da perfumaria ficou paralisado. Um novo aroma se tornou moda e
recebeu o nome de “Guillotine”, um enorme sucesso de vendas para as
revolucionárias, chamadas “sans culotte”. Com a ascenção de Napoleão ao trono da
França começou uma nova era para os perfumes. Os perfumistas que até então eram
simples artesãos montaram seus laboratórios industrias e deram o grande impulso
que, com o tempo, transformaria a perfumaria na extraordinária e dinâmica
indústria mundial.