Serviços no Canal Varejo - PDV no
Mkt Mix 1
Marcos Dutra
Nos dias 28 e 29
de julho de 2005 realizou-se em São Paulo o evento
mais importante do país na área de merchandising de
ponto-de-venda, o PDV no Marketing Mix, implementado
pela Associação Brasileira de Anunciantes e pelo
POPAI Brasil. Este é o primeiro artigo de uma série
sobre os tópicos mais interessantes do evento,
sempre com uma análise do Pensando Marketing.
Uma das apresentações mais importantes foi a
de Simone Terra, diretora da empresa de estudos de comportamento do consumo
Múltipla P&D do Rio de Janeiro. Seu tema foi o uso crescentes de serviços no
ponto-de-venda. Estes foram os pontos de destaque:
O varejo deve dar razões para o consumidor
ir à loja, ou seja, o consumidor passa por um processo de escolha onde compara
uma série de fatores como localização, atendimento e variedade para se decidir
onde vai comprar. Normalmente no varejo estes fatores são mais objetivos, como
preço, mas cada vez mais com a concorrência crescente os fatores objetivos se
tronam o padrão da categoria como um todo e não se constituem em pontos
decisivos. O serviço entra então como fator de escolha final.
Os serviços dividem-se em facilitadores,
aqueles que permitem uma operação de compra com mais rapidez e tranquilidade
(manobrista, por exemplo), ou motivadores, que são os que atraem o consumidor
para a loja utilizando algo que esteja além da compra, como um luxo adicional ou
uma experiência (uma massagem, uma aula).
Vários exemplos existem nos EUA e Europa
desta tendência. Um deles é o Home Depot, que partindo do zero se tornou uma das
maiores empresas americanas de materiais de construção e bricolagem. Entre os
serviços adicionais oferecidos, sempre estiveram a consultoria (sobre pintura,
carpintaria, etc.) e o aluguel de ferramentas ou de veículos, por exemplo.
Outros exemplos interessantes são os da loja
francesa Darty que ensina o consumidor a comprar através de placas ao lado do
produto, com um tutorial mostrando os diversos fatores que devem ser
considerados na análise de um determinado tipo de produto. O supermercado
europeu Auchan também traz uma novidade: nutricionistas, cosmeticistas,
especialistas em culinária disponíveis por telefone para tirar dúvidas da
consumidora da loja.
Uma tendência importante é que os serviços
estão ficando mais pessoais (como uma massagem) e estão se transformando de
fonte de custo em fonte de lucro, pois passam a ser pagos. O consumidor tem uma
expectativa formada a partir de suas experiências anteriores e sabe que
determinado serviço não é comum: esta diferenciação ele paga sem problemas. O
cuidado deve existir em não se cobrar por serviços que na percepção do
consumidor são parte inerente do processo de compra, para não se gerar rejeição
(sacos de compra, estacionamento, etc.).
Análise do Pensando Marketing:
O processo de escolha da loja é semelhante
ao processo de escolha para produtos de consumo. O consumidor analisa a loja
através de benefícios emocionais e racionais e faz sua escolha por comparação.
Neste sentido, os serviços criam um diferencial que destaca a loja entre o
grupo. Por isso é tão importante a renovação constante, para que este destaque
não seja perdido e não se entre na comoditização (porque aí só preço vale). Um
exercício interessante para o lojista pode ser listar em um quadro todas estas
variáveis, em um formato de matriz, e determinar sobreposições entre os
atributos dos concorrentes e entre estes atributos e as necessidades do
consumidor.
O fato de o consumidor estar disposto a
pagar por um serviço não surpreende: é preciso lembrar, não só no varejo mas em
qualquer setor, que o consumidor tem uma expectativa formada. Quando algo supera
esta expectativa, inconscientemente é encarado como um servico extra. O grande
desafio é encontrar o serviço que o consumidor considera relevante e que tenha
sinergia com o local de compra. Na verdade, é uma questão de logística pessoal e
conveniência: uma massagem em uma drogaria só será interessante se for mais
fácil que ir até o centro de estética. O pagamento de contas no supermercado só
é interessante se for mais fácil que ir ao banco. A grande vantagem do lojista,
especialmente no varejo alimentício, é que o consumidor tem que ir à loja com
frequência.
Um problema que pode acontecer muito
facilmente é o mesmíssimo que ocorre com empresas de serviços, com cartões de
crédito e celulares. Coloca-se um monte de serviços no celular, por exemplo, que
o consumidor não conhece (porque tem um limite na absorção de informações) ou
não precisa (porque é um serviço com apelo a um segmento pequeno). Então a
empresa acaba perdendo tanto tempo com estes serviços que esquece da qualidade
do serviço principal, que no caso do varejo é vender de forma prática e
conveniente. Um paralelo seria o cartão que permite a compra de ingressos na
Broadway mas não é aceito no posto de gasolina da esquina.
O desafio é entender as necessidades dos
maiores segmentos dos consumidores da loja, escolher um número pequeno mas
significativo de serviços e, aí sim, comunicá-los com clareza e executá-los com
perfeição. Como tudo em marketing, é melhor fazer pouco direito que fazer muito
mal-feito.