
Gustavo Grisa
é MBA de Thunderbird no Arizona e trabalha como executivo em uma multinacional de Telecom em Brasília.
Hoje é uma das maiores autoridades em inteligência corporativa no
Brasil.Seu site
www.gustavogrisa.com.br tem diversos artigos sobre tecnologia e desenvolvimento.
Julho 2005
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O Brasil Sob os Olhos dos
Estrategistas Internacionais
Gustavo Grisa
As grandes empresas com atuação global
sofisticam cada vez mais seus mecanismos de planejamento corporativo que
passam, obviamente, por um monitoramento detalhado das condições sistêmicas
e de desenvolvimento de negócios nas diferentes partes do mundo. Para quem
tem a visão ingênua e maniqueísta que as análises são superficiais ou
desatualizadas fica a resposta efetiva dos destinos dos investimentos e da
constatação física, real, dos países que gradativamente deixam de ser alvo
preferencial de novos aportes e projetos. Dentre esses, nos últimos anos, o
Brasil.
Tive recentemente a oportunidade de conversar com diversos profissionais de
Estratégia Global em corporações dos EUA e Europa, e pude constatar que,
basicamente, o Brasil é visto como estruturalmente interessante, é quase
sempre analisado como alternativa, principalmente como canal para a América
Latina, mas acaba ficando muitas vezes em segundo plano, ou “para mais
tarde”.
Impostos e Burocracia- O principal problema apontado não é mais a
instabilidade política, como acontecia até meados das anos 90, mas sim o
excesso e complexidade de impostos, taxas e complicações burocráticas,
verdadeiros repelentes ao investidor internacional, com ou sem parceiros
brasileiros.
Inconstância Cambial – A montanha-russa do câmbio no Brasil é vista como um
grave entrave, pela desordem nos preços relativos, pelos problemas de
mobilização dos agentes financeiros e econômicos, pela dificuldade em
firmar-se como plataforma global ou mesmo regional de exportações e
distribuição. Um executivo canadense me disse “nós temos financiamentos a
juros internacionais, mas o que faz um empresário brasileiro com esse
abre-e-fecha cambial? Só pode ser maluco, ou masoquista...”
O governo Lula – O governo Lula é visto com surpreendente pragmatismo, fora
do tradicional preconceito e estereótipo de esquerda latino-americana.
Sabe-se que o governo brasileiro não é lunático como o de Chávez na
Venezuela, mas sabe-se também que é relativamente incompetente,
inconsistente e não tem demonstrado capacidade de fazer o Brasil avançar em
nenhuma variável de competitividade sistêmica. O foco em política é
continuidade e avanço institucional. Na primeira parte, o governo Lula é
aprovado; na segunda, não.
As opções estratégicas do Brasil – Os movimentos do Brasil nos diferentes
blocos econômicos é visto com curiosidade, e hoje paira uma incerteza sobre
o que efetivamente queremos. As excentricidades do neo-terceiro-mundismo são
entendidas mais como frivolidade do que uma opção econômica.É consenso,
porém, que o Brasil já teria cacife para buscar acordos comerciais via
Mercosul mais agressivos com alguns países.
Uma alternativa à China – Cada vez mais estrategistas de nível sênior com
alto grau de credibilidade defendem a visão de que o Brasil, no contexto da
ALCA ou de relação bilateral com os EUA, seria o parceiro mais confiável
para se contrapor à China em nível global, devendo nesse caso receber o
apoio necessário para resolver seus problemas de competitividade. Com o
devido cuidado, não é uma hipótese a ser descartada da nossa parte...é
percebido que são raros os interlocutores brasileiros que conseguem enxergar
a ordem mundial sem nuvens ideológicas ou conjunturais.
Falta de uma política consistente de incentivo a negócios de alta tecnologia
– É consenso que o Brasil demora muito para entrar de vez na nova economia.
Não é conhecido nenhum plano abrangente de desenvolvimento para empresas de
alta tecnologia, seja de software, biotecnologia, novos materiais, ou
comunicações integradas. Não é percebido que exista por parte da comunidade
econômica brasileira (governo e lideranças empresariais) uma preocupação em
ampliar a presença de investimentos-âncora dos grandes grupos internacionais
detentores dessas tecnologias. O sistema tributário brasileiro é também
totalmente diverso dos países que têm conseguido se desenvolver nessas
áreas. Com isso, estamos ficando relativamente para trás nas indústrias de
alto valor agregado, capazes de gerar redes virais de conhecimento e
remuneração de bom nível aos trabalhadores.

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