Tem Um Ronaldinho em Cada Agência de Publicidade Digital
Roberto Eckersdorff
Quando, pela segunda vez consecutiva, nós, "
webpublicitários " brasileiros, tivemos Cannes aos
nossos pés, perguntei a mim mesmo o que nos tornara
os mais criativos do mundo em publicidade na
Internet, como alcançáramos tão grande feito. E não
foi difícil chegar a algumas respostas e conclusões.
Não é novidade para ninguém que o brasileiro, de
modo geral, enfrenta dificuldades extras muito
grandes para realizar o que quer que se pretenda.
Diferentemente de muitas outras nações, conquistas
básicas como pagar o próprio estudo, comprar
um carro ou uma casa, por exemplo, ainda são um
sonho muito distante para a grande maioria.
Em
publicidade na Internet não seria diferente. As verbas para o segmento, apesar
do evidente retorno obtido por campanhas, continuam muito pequenas, em
comparação com as de outras mídias. A limitação do orçamento exige alternativas
diferenciadas. É a melhor manifestação do " jeitinho brasileiro " , essa
criatividade que nasce da restrição, esse jogo de cintura que nos leva pela
vida. No Brasil, dificuldade é o processador da criatividade. A
multifuncionalidade do profissional envolvido com publicidade digital, o
conhecimento de todo o processo de criação, produção e veiculação de uma
campanha on-line também tem favorecido. Como uma atividade ainda em fase
inicial, prolifera nas agências o profissional que é um faz-tudo, planeja, cria,
veicula. Uma visão do todo, integral tem ajudado a encontrar caminhos diferentes
na Internet brasileira.
A distância
das grandes corporações transnacionais de suas matrizes abre também algumas
brechas nos seus " guides " de comunicação extremamente rígidos e normativos,
por onde se manifesta a criatividade mais genuína. Quem já trabalhou para
clientes de grande porte sabe do que estou falando, da profusão de limitações
e restrições para a criação de qualquer peça publicitária, da mais simples à
mais complexa.
Paradoxalmente, a posição do Brasil no contexto internacional, de país em
desenvolvimento, nos coloca na frente, porque encontramos clientes mais
relaxados e abertos a novidades. Essa certa posição periférica do Brasil também
nos favoreceu num outro ponto: porque aprendemos com os erros que os outros
cometeram antes de nós. Tivemos, em publicidade na Internet, a chance de pular
certos obstáculos, como o irmão mais novo que aprende com as " quedas " do
irmão mais velho, evitando-as para si.
Nossa
criatividade nasce ainda de um dado evidente: nossa familiaridade com a
Internet. Segundo pesquisa Ibope/NetRatings de junho, o internauta brasileiro é
o recordista mundial em navegação residencial: são 17 horas diárias, em média,
na Internet. Longa utilização é uma espécie de treinamento. Seria injusto não
anotar aqui a nossa tradição publicitária como responsável também pelo sucesso
da nossa publicidade digital. A publicidade on-line é muito boa porque sempre
tivemos uma publicidade fantástica. Apenas surgiu uma nova mídia, com novas
possibilidades, mas a criatividade é a mesma. Em matéria de criatividade
digital, assim como em matéria de futebol, enfim, o Brasil não tem para ninguém.
Simplesmente porque tem um Ronaldinho, Kaká, Adriano em cada departamento de
criação digital das agências. E, no ano que vem, vamos buscar o tri em Cannes e
trazer a Jules Rimet digital para casa.
