Marketing Pessoal
Carlos Eduardo Munhoz
Fatos recentes me
fizeram relembrar o grande Comandante Rolim Amaro.
Em uma das suas famosas "Carta do Presidente" que
eram distribuídas aos passageiros da TAM, ele dizia
que "mais importante do que saber começar algo era
saber terminá-lo". Nesta carta o saudoso Comandante
falava com propriedade que sempre lhe foi peculiar,
sobre o comportamento dos colaboradores da TAM que
eram despedidos. A empresa havia criado um carta
demissional onde os colaboradores poderiam descrever
tudo o que estavam sentindo. Estas cartas eram
analisadas por uma equipe de especialistas em Gestão
de Pessoas que esperavam adquirir com estes relatos
informações que permitissem construir um melhor
relacionamento e sistema de trabalho. A grande
surpresa fôra descobrir que o conteúdo destas cartas
eram de um rancor maior que o esperado a um
ex-colaborador. Elas vinham recheadas de acusações
pessoais, intrigas sobre o comportamento de outros
companheiros e toda a sorte de maldade contra
antigos lideres.
O livro com todas as cartas do Comandante Rolim
poderá ser adquirido em qualquer livraria e certamente é uma leitura obrigatória
aos jovens executivos que não tiveram a chance de acompanhá-las através de suas
viagens. Mas o motivo que me levou escrever este artigo sobre marketing pessoal
é para uma situação não citada pelo Comandante. Os que demitem-se de algum
cargo. Estamos sempre aprendendo e levamos anos preparando para sermos
contratados, mas esquecemos de nos prepararmos para sermos demitidos. Quando
vamos a uma entrevista de emprego ou a um novo encontro amoroso é sempre uma
grande preparação: banho demorado, perfume, currículo impecável, hálito
refrescante etc. Fazemos de tudo para impressionarmos e para gerarmos grande
expectativa no outro. Passada esta fase e conquistado nosso objetivo começamos a
abrir nossa guarda. Muitas vezes não era o que esperávamos e que criamos uma
expectativa maior do que realmente encontramos.
Sabemos que a medição de qualidade é justamente
isso. Qualidade pode ser definida como o alcance a expectativa gerada por nosso
cliente. Alguns podem acomodar-se com a situação, outros podem ter uma ânsia
maior e nem sempre esperam o devido tempo para os acontecimentos, entre diversos
outros tipos de comportamento. Esqueçamos os acomodados, estes certamente
poderão ser objeto de um novo artigo. Concentremos nos mais ansiosos e não nos
esqueçamos que somos nós quem criamos/concebemos esta expectativa. Suponhamos
que este indivíduo simplesmente decidiu sair da empresa ou do relacionamento.
Decisão tomada, o que ele deveria fazer ?
A resposta parece óbvia. Vamos até a empresa ou
ao nosso parceiro e verbalizamos o que estamos sentindo e pomos um ponto final
no assunto. Mas infelizmente nem sempre isso acontece, alguns colaboradores
começam a tentar cravar esta demissão para conseguir algum beneficio legal.
Outros tentam usar de toda a esperteza de sentimentos no mesmo sentido, ou seja,
penalizar a outra parte para que ela aceite a demissão e assim o mesmo tenha
algum beneficio.
Mas e os que simplesmente desaparecem ?
Inicialmente parece um pouco improvável mas alguém já teve a curiosidade de ver
a quantidade de abandonos de empregos ? Comecem a passar os olhos para este
item. Aí pergunto, o que leva alguém a esconder-se de uma responsabilidade. Esta
pergunta é feita nos três casos. Aos que estão tentando cravar a demissão por
meio de comportamentos duvidosos, os que estão se vitimando e aos que
desaparecem. Imaginem esta situação na vida privada de cada um. Imaginem se a
cada problema ou desilusão que encontrássemos pela frente simplesmente
pudéssemos deletá-la, apagá-la ou simplesmente driblá-la. O grande problema é
que estamos lidando com pessoas, seres humanos que devem ser respeitados. Se não
estamos mais interessados em algo devemos utilizar do mesmo expediente que
utilizamos para inicia-lo, relembrando a frase do Comandante Rolim "mais
importante do que saber começar algo era saber terminá-lo". Acabou ? Sem novela
mexicana, mas hombridade, caráter e coragem para enfrentar o problema.
Necessitamos de brasileiros capazes de encarar
estas demissões da vida. Sinto saudade do Comandante Rolim Amaro. Era um homem
que sabia começar e terminar tudo o que se envolvia. É um exemplo de marketing
pessoal, por ter sido humano, autêntico e por nunca ter escondido-se no
anonimato. Lembre-se que um cliente falando mal tem a força de mais de 100
clientes falando bem. Então, o que queremos ?
Quando forem demitidos ou demitir-se, sempre
encare de frente esta situação. Colabore com seu biógrafo, pois, sempre haverá
alguém capaz de lembrar de suas grandes ações e das fugas que denigrem a
inteligência e a capacidade humana dos outros. Tenho saudade do Comandante !
