
Marcos Dutra é editor do Pensando Marketing e
profissional da área com passagem em empresas como Johnson & Johnson,
Sadia e Credicard.
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Fala-se muito da importância da assessoria de imprensa em
questões corporativas que envolvam a empresa como um todo. Já é
bem conhecido o caso do envenenamento do Tylenol e a maneira
transparente como a Johnson & Johnson dos EUA tratou do assunto.
Não há dúvida que a assessoria de imprensa tem um papel
fundamental na administração de crises, na construção da imagem
comunitária da empresa e no treinamento de seus dirigentes para
o difícil trato com os jornalistas.
Porém, há uma outra faceta da assessoria de imprensa que, se não
é muito comentada, nem por isso deixa de ser cada vez mais
importante: é a assessoria de imprensa como ferramenta de
comunicação de marketing, com objetivo de criação de negócios.
Embora a comunicação em massa funcione bem para produtos de
consumo, ela não atinge certos objetivos mais específicos do
marketing dos setores de serviços ou business to business
(B2B). Estes setores trabalham com soluções para seus mercados
que são bem mais complexas, dependendo muito da compreensão de
detalhes não apenas sobre o produto, mas também sobre a
competência e reputação da empresa. Por exemplo, para se
apreciar uma margarina, basta saber que ela é de boa qualidade e
que apresenta gosto, cheiro e textura agradáveis (as tais
propriedades organolépticas). A qualidade da empresa é avaliada
através do produto e de seu histórico, mais do que através de
detalhes do processo de fabricação.
Porém, no setor de serviços, as coisas ficam mais complicadas.
Um banco pode ter um excelente produto, mas preciso saber se a
empresa é sólida e não vai quebrar, levando meu dinheiro com
ela. Uma linha aérea pode ter bom atendimento, mas um histórico
de segurança e a qualidade da manutenção dos aviões fazem
diferença. Em B2B, a qualidade do serviço e a rapidez do
atendimento podem ser as diferenças entre lucros e uma fábrica
parada por problema de manutenção.
O
problema é que convencer seu cliente da sua qualidade,
eficiência e know-how nestes setores é bem mais complicado que
colocar um comercial no ar. Um comercial não consegue, pela
natureza de seu formato, passar detalhes e informações
complexas. Atolar o cliente de brochuras ou investir apenas em
anúncios em revistas técnicas também não resolve, porque é muito
difícil se diferenciar entre dezenas de concorrentes. Quem já
leu uma revista médica sabe que dureza é.
Hoje o cliente, principalmente aquele com dinheiro na mão, está
em uma posição privilegiada. Ao ser inundado de ofertas sem uma
maior diferenciação, ele acaba optando pelo melhor preço.
Uma
da melhores maneiras de se obter diferenciação passa pelo
oferecimento de algo que interesse ao cliente pessoalmente. Isto
significa sair do bolo de fornecedores apenas oferecendo
produtos padrão para se tornar um parceiro do cliente, com
serviços e consultoria que ultrapassam o atendimento esperado.
Significa não apenas saber mais que a concorrência a respeito de
seus produtos, mas sim trazer informação que ajudem a alavancar
o conhecimento da empresa a respeito de seus negócios.
O
setor de fragrâncias faz este trabalho muito bem: é comum que as
empresas de cosméticos e higiene recebam relatórios e
apresentações sobre tendências mundiais e novos lançamentos em
outros países. Na hora de desenvolver um novo produto, a
indústria prefere ter a seu lado não apenas alguém que ofereça
um insumo de qualidade (quase todos os fornecedores fazem isso),
mas um parceiro que o ajude até na estratégia e na compreensão
do mercado.
Porém, este tipo de parceria íntima e confiança total requerem
alguns sacrifícios. Para que haja credibilidade, deve haver
isenção e uma percepção que as necessidades do cliente vêm antes
de uma venda forçada. Por exemplo, a escola de negócios
Thunderbird costuma dar orientação sobre as melhores
alternativas em educação executiva. Porém, dependendo do perfil
do prospect, é possível que os programas da escola não sejam os
mais adequados para ele naquele momento. Mesmo que este
indivíduo resolva cursar um programa da concorrência, a escola
fornece a assessoria, porque sabe que o prospect poderá vir a
ser um dia um cliente, quando sua situação profissional mudar.
Talvez o mais avançado estágio desta estratégia seja conseguir
atrair o comprador potencial (decision maker) através de
um interesse pessoal. Isto pode ser obtido com o oferecimento de
know-how e ferramentas que o auxiliem em sua carreira. É
impressionante a demanda por informação e treinamento existente
no mercado. Palestras e cursos de curta duração têm sucesso
garantido, desde que ofereçam o que o profissional deseja.
É
aqui que entra a assessoria de imprensa. Esta parceria só pode
acontecer quando o mercado reconhece sua empresa como expert
em seu setor. Suas palestras, seus relatórios, suas
apresentações só terão credibilidade com a construção desta
imagem. A assessoria de imprensa bem trabalhada consegue, em um
plano de médio e longo prazo, inserir continuamente na mídia
(geral ou especializada) os trabalhos desenvolvidos por sua
empresa, seus eventos, declarações de especialistas, pesquisas
realizadas, etc. O objetivo final é transformar sua empresa em
um opinion leader do mercado, no primeiro nome que vem na
cabeça quando se fala no seu segmento.
Este tipo de trabalho é um círculo virtuoso: no começo é um
pouco mais difícil, mas depois que alguns jornalistas são
convidados para uma palestra, um evento, e percebem que há
qualidade e interesse editorial, eles acabam dando mais e mais
espaço para sua empresa. Jornalistas também precisam de ajuda
quando escrevem sobre segmentos que muitas vezes não conhecem
com profundidade e, se você se mostrar um parceiro, eles irão
buscá-lo mais e mais atrás de dicas e declarações.
Em
seu trabalho de consolidação como a maior expert em negócios
internacionais, Thunderbird tem lançado mão de palestras com
professores internacionais e cafés-da-manhã com executivos, onde
temas da atualidade do mundo de negócios são discutidos. A
cobertura da imprensa tem sido excelente, com entrevistas e
páginas inteiras em jornais. Mas nestes eventos não são vendidos
os cursos. A venda deve ser uma conseqüência da solidificação da
imagem e da abertura de portas que os contatos nos eventos
proporcionam. Não "force a barra".
Uma
boa assessoria de imprensa deve ser capaz de entender seu
mercado e criar um plano para qualquer segmento. Este plano,
inserido no plano mais geral de comunicação de marketing e
apoiado por eventos, comunicação direta e propaganda, pode tirar
sua empresa daquela posição de vendedor chato a empurrar
produtos e colocá-lo na cobiçada posição de parceiro de
negócios. Mas corra, porque em cada segmento só existe um expert
principal. Que ele seja você.
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