
Gustavo Grisa é economista formado pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com MBA em Negócios
Internacionais pela
Thunderbird- The Garvin School of
International Management (EUA).
Nos Estados Unidos, desenvolveu projetos de consultoria para
investimentos na América Latina e foi analista de risco político
para o Brasil e Argentina.
Atualmente, reside em Brasília (DF) e atua na área de Planejamento
Estratégico de uma grande empresa do setor de telecomunicações e
tecnologia.
Foi co-fundador do capítulo brasileiro da Sociedade de Profissionais
em Inteligência Competitiva(SCIP) e membro da International Studies
Honor Society(EUA).
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Competitividade Sistêmica é o Melhor Caminho
Nestes dias de odes a um eventual Plano B na economia brasileira, um
pouco de reflexão conclui que o Plano B pode ser um remédio muito mais
perigoso do que a doença a que se propõe a curar. Um Plano B com bases
expansionistas, heterodoxas e intervencionistas poderia realimentar a
inflação e expor politicamente o Governo, além de colocar em xeque uma
credibilidade junto à comunidade financeira internacional que o Brasil
demorou anos para construir. Uma sintonia difícil de administrar.
Fica cada vez mais óbvio que o Brasil precisa é aprofundar-se em um
outro tipo de Plano A. O problema não é decifrar a fórmula do
desenvolvimento, mas sim ter maturidade para levar um programa
modernizante a cabo, sabendo que os frutos apenas serão colhidos no
médio prazo. Esperar de Planos B uma revigoração mágica de nossa
economia é algo tão ilusório quanto o sujeito que espera ganhar na
loteria ou enriquecer da noite para o dia.
Como ponto de partida, a noção de que as reformas realizadas durante o
governo Fernando Henrique, incluindo as privatizações, não foram
suficientes. Existe uma segunda fase de reformas que urgem, incluindo a
modernização da infra-estrutura de transportes e logística, energia e
tributação do sistema produtivo. Para isso, é preciso atrair
investidores. É bem verdade que o cenário internacional não está para
peixe, mas com a melhoria das condições sistêmicas de competitividade o
Brasil pode seletivamente voltar a atrair empresas e investidores.
Estas condições sistêmicas são: desoneração tributária, ganho de
eficiência da administração pública, condições regulatórias estáveis e
transparentes, e principalmente um sistema de justiça e segurança
pública confiáveis. Por si só, pode parecer um programa de governo
inteiro e uma tarefa hercúlea. A simples sinalização da busca corajosa
de melhoria das condições de fundo para a atividade econômica já
despertariam o gigante da competitividade, um pouco adormecido neste
momento. O Governo tem uma capacidade de mobilização única, mas apenas
com o entendimento amplo de lideranças da Sociedade Civil de que é
preciso colaborar, sugerir e formular o processo virtuoso se instaura.
Um ganho de confiança no futuro do País pode trazer de volta o
crescimento econômico, os ganhos de produtividade e consequentemente uma
melhor distribuição de renda através do trabalho.
A receita não é nada original: ampliar as privatizações, ter a coragem
de implantar tetos salariais realistas aos ativos e inativos, controlar
a politização da máquina do Governo, tirar da Previdência a função de
corrimão de quartel dos investimentos públicos, diminuir a carga
tributária e implantar política industrial destinada à atração de
investimentos e desenvolvimento de setores de alta tecnologia:
biotecnologia, semi-condutores, indústria aeronáutica, software e
comunicações integradas, trazendo junto a Educação profissional. Some-se
a isso uma política qualificada de segurança pública e atenção ao
sistema legal. Segurança não é só problema de polícia, mas também de
economia e desenvolvimento.
Nada vindo de Marte, mas este é o Plano A plausível, sem ilusões. É o
plano de fortalecimento de instituições e transparência.É o Plano da
Competitividade Sistêmica. A Sociedade brasileira precisa entender e
responder aos desafios dos anos 2000. Até agora, estamos parados em
algum momento da década de 90, à espera de ajuda divina. A economia só
reage com consistência a um sincero e contínuo choque de confiança.
Artigo publicado originalmente no site www.gustavogrisa.com.br
MAIO
2004
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