
João Luís Amaral é
formado em Comunicação Social e
Mercadologia pela ESPM, com MBA-Especialização em Marketing pelo
FGV-Management.Atua como profissional da área de Corporate Communications de um grande banco multinacional.
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É fácil
saber o que o cliente pensa sobre seu produto. Pergunte para ele!
Relatórios estatísticos, análises de pesquisas quantitativas,
qualitativas, "focus group", dados secundários, análises de
comportamento do consumidor. Hoje em dia são muitas as ferramentas
disponíveis para a tomada de decisão do gestor de Marketing de uma
empresa. Entretanto, você, gestor, já pensou em ir até o ponto de venda
e perguntar diretamente para o seu cliente o que ele pensa sobre seu
produto?
Não quero
aqui, de forma alguma, questionar a importância dos institutos de
pesquisa ou das estatísticas, das ferramentas que temos no mercado para
entender nossos clientes. São, sim, fortes aliados, fontes sérias de
informação para que se decida pela estratégia "A" ou "B". Mas não são -
e nem devem ser - as únicas. E é esse o ponto.
Digamos,
por exemplo, que você gerencie a linha de produtos de um iogurte para um
nicho específico, como aqueles com 0% de gordura. Provavelmente você
aplica um preço diferenciado - existe uma vantagem para o consumidor, e
ele pode estar disposto a pagar por isto - com uma embalagem que reforce
esta diferenciação e, para finalizar, está disponível na gôndola de
produtos "light". Pois vá até lá!
Sim.
Levante da sua cadeira, entre no carro, vá até o supermercado, mais
precisamente no corredor onde seu produto está exposto. Algumas pessoas
deverão estar analisando as várias (e são muitas mesmo) opções ali
disponíveis. Como se fosse um consumidor qualquer, pegue qualquer coisa
que tem pela frente e finja que está lendo a embalagem. Mas não perca
aqueles consumidores de vista. Aproxime-se um pouco mais para tentar
ouvir o que estão conversando, quais aspectos do produto estão
discutindo.
Seja
bem-vindo ao mundo do processo decisório. Quer fonte mais rica de
informação? Bem ali, na sua frente, estão "influenciador" (a menina
preocupada com a estética) e o "decisor" (a mãe, que paga a conta). Quem
influencia tenta juntar todos os argumentos possíveis para conseguir o
que quer. Quem decide é mais racional, vê a relação custo/benefício como
ponto de partida. E você, gestor, de camarote.
Agora a
tacada triunfal: aproxime-se, como quem não quer nada (mas quer, e
muito), e pergunte: "Com licença! Eu gostaria de comprar este produto
(aponte para o seu) para minha esposa (filha, tia, qualquer pessoa) mas,
como não conheço direito (conhece de ponta a ponta), queria saber se é
bom". Neste ponto começam a aparecer, como que numa tela de cinema,
todas as respostas que você tem procurado. Mas prepare-se: podem ser
boas ou ruins. Coisas do tipo: "Ah! É ótimo, os pedacinhos de frutas são
excelentes! No meio da tarde não tem coisa melhor". Ou, quem sabe: "Um
absurdo que custe quase R$0,50 a mais do que os iogurtes comuns".
E você
pode, ainda com a máscara de cliente interessado, se aprofundar um pouco
mais, comparando-o ao mesmo produto oferecido pelo concorrente,
perguntado sobre as vantagens e desvantagens que um tem em relação ao
outro, qual aspecto pesa mais na hora de comprar, se o preço é realmente
importante quando o assunto é a saúde dos filhos. Ou seja, não há limite
na qualidade do assunto, mas há limite na quantidade (em segundos) dele.
Tente não se demorar mais do que 1 minuto, porque ou você se tornará um
tremendo chato, ou será convencido de que seu concorrente tem um produto
realmente melhor que o seu.
Procure
repetir este exercício de tempos em tempos. Você, sua empresa, seu
cliente só têm a ganhar. Você terá um produto mais alinhado com o que o
consumidor realmente espera dele. Sua empresa poderá atingir bons
índices de vendas, resultando em lucro. Seu cliente terá um produto
feito sob medida para ele.
Mas não
se esqueça: agradeça sempre a atenção, pague o produto no caixa, anote
tudo no caderno que está jogado no banco de trás do seu carro e corra
para casa. Iogurte fora da geladeira pode estragar...
João Luís
Amaral
joao_luis_amaral@hotmail.com
Maio 2004
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