
Milene Laube Dutra
Formada em Marketing pela ESPM
com pós-graduação em Thunderbird, EUA, Milene é uma experiente
profissional de marketing com passagens em empresas como Colgate (onde
trabalhou em Nova Iorque), Best Foods e Danone, tendo trabalhado com
algumas das maiores marcas do Brasil.
Milene é também uma das maiores especialistas no
país em Marketing Infantil.
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Recentemente, a FGV de São Paulo organizou, através de seu Centro de
Excelência em Varejo, um seminário a respeito de um mercado extremamente
atrativo, mas que às vezes é negligenciado por não ter o glamour dos
mercados premium. Lá foram discutidos:
- Quem são e quantos são os consumidores de baixa renda,
- Atitudes e comportamento dos consumidores classificados como de baixa
renda,
- Mix de compra e % da renda gasto com alimentação,
- Como tratar e como falar com este publico,
- Como vender para este público,
- Tipo de varejo adequado aos hábitos de compra deste público e como a
indústria pode otimizar recursos para melhor atender o pequeno varejista
Highlights
Cerca de 30 milhões de domicílios possuem renda familiar inferior a R$
1200,00, correspondendo a 60% dos domicílios no Brasil (IBGE). Estes
60%
dos domicílios detém menos de 20% da renda total e gastam, em média, 20%
do
seu orçamento em produtos alimentícios (representando 33% do total do
faturamento do mercado de alimentos no país).
O crescimento do consumo das classes de baixa renda ocorreu por ocasião
do
plano Real, quando a estabilidade econômica e o acesso ao crediário
favoreceram um aumento do respectivo poder de compra.
Dentre os domicílios de baixa renda, predomina o perfil de lares com
crianças até 5 anos, onde a grande maioria dos chefes de família têm
como
escolaridade o primário incompleto. Interessante mencionar que 40% da
população de classes D e E são pardas (demais 60% distribuídos entre
brancos, negros e asiáticos).
Em função da proliferação da informalidade de emprego, a entrada de
renda
no domicílio é inconstante, favorecendo as várias visitas ao
supermercado
(2 a 3 vezes por semana). Por não terem veículo próprio, a opção de
varejo
é a pequena loja da vizinhança (ainda que paguem mais caro pelos
produtos,
o consumidor economiza no transporte).
Outro aspecto valorizado no varejinho da vizinhança é a possibilidade de compra de caderneta/fiado e
da negociação com o dono (se faltar dinheiro para completar, o consumidor
leva a mercadoria e completa o valor na próxima compra e desta forma, além de
levar a mercadoria para casa atendendo às necessidades da família, não
passa a vergonha de ter que devolver o produto, como aconteceria no
grande varejo).
Trata-se de um grupo com valores conservadores (família, honra, justiça)
que tem a necessidade de se sentir incluído e respeitado, apesar de sua
condição financeira. São pessoas que têm o hábito de se socializar e
valorizam muito o contato face-a-face. Quem compreende esta dinâmica de
valores e comportamento (case "Casas Bahia") consegue um lugar "no
coração"
deste consumidor (que ao contrário do que muitos imaginam, se torna
fiel).
O acesso ao crédito é a grande chave para entrar na sacola deste público
(e não necessariamente o preço final). No caso de produtos de consumo
rápido
(FMCG), a preferência recai sobre as marcas consideradas como de maior
qualidade (que entregam o que prometem) uma vez que a dona-de-casa não
pode
"errar" na compra. Se o produto se destaca na qualidade, o preço
premium
compensa. Quando falamos de uma categoria em que a qualidade percebida é
a
mesma para diversas marcas, então vence a de menor preço/em oferta. Em
geral, o preço que compensa para a "troca" de marca varia de 15% a 20%
inferior à marca usual (isso, é claro, se o valor percebido for similar
e
se o produto não decepcionar quando a dona-de-casa for "usar" o
produto).
Não devemos ser preconceituosos ao lidar com este público que admira o
Ratinho e o Silvio Santos e lê a Folha Universal (um dos veículo
impressos
de maior circulação no Brasil). Este público não necessariamente tem
mau-gosto ou gosta do brega e certamente não se contenta com baixa
qualidade. Devemos deixar de lado a expressão "aspiracional". Nem sempre
possuir produto "de rico" é o desejo a ser realizado para este público.
A
riqueza de cores e a exuberância são atraentes em função da valorização
da
fartura.
Na opção de compra quando sobra algum dinheiro, o consumidor de baixa
renda
pode ter 2 comportamentos:
-> adquirir algo que não poderia em outra ocasião de "vacas magras":
comportamento mais usual.
-> comprar mais do mesmo (aproveitando ofertas para se estocar): este
comportamento acaba sendo mais encontrado na classe média.
Na atual recessão que
vivemos, o mercado de baixa renda passa a ser fundamental para a
sobrevivência das empresas, e entendê-lo bem, uma obrigação do
marketeiro.
Milene Laube Dutra
milene@global.t-bird.edu
JUNHO
2004
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