"Preste atenção para não cair no erro e na insensatez daqueles que desperdiçam e perdem suas vidas com negócios e assuntos intermináveis, mas não têm objetivos nos quais devam concentrar seu pensamento, energia e ação."
Marco Aurélio, imperador romano, 121-180 d.C. |
O conselho dado por Marco Aurélio a seus contemporâneos, há quase dois mil anos, poderia muito bem ser transmitido a todos os homens e mulheres de nosso século. Observamos em nossas atividades diárias que a maioria das pessoas luta, desesperada e freneticamente, ano após ano, em busca de posições mais elevadas, prosperidade material, fama, sucesso, poder e domínio sobre outras pessoas. Todavia, quase sempre muitos acabam desiludidos, frustrados e cheios de ressentimentos. Eles não foram capazes de conquistar o que tanto sonharam e ambicionaram ao longo da vida. Como constata a sabedoria mundana, "nadaram... nadaram e morreram na praia".
A história das civilizações está repleta de incontáveis exemplos. Um dos mais notórios é o que envolve um dos mais admirados mestres da sabedoria humana, Confúcio, filósofo político chinês (551 a 479 a.C.) (não esqueçamos que o confucionismo se tornou uma ideologia de estado apenas 350 anos após sua morte). Relata-nos a história que sua carreira, após sucessivas demissões, terminou totalmente frustrada. Embora a posteridade viesse a adorá-lo como "o Primeiro e Supremo Professor"da China, não devemos esquecer que o ensino sempre constituiu para ele um mero quebra-galho. Sua verdadeira vocação e objetivo de vida era a política. Ao longo da vida, inúmeras vezes, ele considerou a possibilidade de renunciar à própria vida - perambulando pelas cidades ou viajando por mares distantes - além de ter morrido com o sentimento de ter fracassado por completo em sua missão. Mas, a história demonstra que ele foi um vencedor. Pessoas perdedoras, entretanto, habitualmente costumam se desculpar, dizendo: "a sorte jamais nos favoreceu"; "nós estávamos no lugar errado, na hora errada com as pessoas erradas"; "nós nunca recebemos qualquer tipo de apoio que ajudasse a alavancar nossa vida - pessoal e profissional", "nós fomos atropelados pelos acontecimentos"; "nós nunca fomos avaliados formalmente e jamais recebemos feedback de quem quer que seja"; "parecia que todos estavam juntos, conspirando contra nós".
O que salta aos olhos é sempre uma atitude de vítima que nunca identifica uma lacuna em si mesma, mas sempre atribui a outros a causa dos próprios fracassos e frustrações. A esse respeito, já advertia Confúcio, vítima de si mesmo, há mais de dois milênios: "Um cavalheiro abomina as pessoas que inventam desculpas para seus atos, em vez de dizer claramente: quero isto", (Os analectos 16.1), ou ainda, como instruía Epitecto (50 a.C - 127 d.C): "Você se torna aquilo que você pensa. Evite atribuir supersticiosamente aos acontecimentos poderes ou significados que eles não possuem. Mantenha a cabeça firme. Nossas mentes ocupadas estão sempre tirando conclusões, inventando e interpretando sinais que não existem de fato... Todos os acontecimentos contêm algo vantajoso para você - se você quiser procurar!"
Se essas justificativas, eloqüentemente elaboradas, não merecem crédito e, muito menos, compaixão, há de se perguntar: o que essas pessoas fizeram de errado? A resposta é bem clara: elas não tinham objetivos, nem de vida e nem de carreira claramente definidos. Quando as pessoas não têm objetivos bem definidos, elas desperdiçam tempo, energia, recursos e esforços. E o mais triste, elas não têm rumo. O pároco Antonio Vieira, em um de seus sermões, declarou: "Toda vida humana, se não trouxer sempre diante dos olhos o fim para que nasceu, é nave sem norte, é cego sem guia, é república sem lei, é dia sem sol, é norte sem estrelas, é labirinto sem fio, é armada sem farol, é exército sem bandeira, em fim, é vontade às escuras, sem luz de entendimento e que lhe dite o que há de querer ou fugir".
Em contra-partida, o profissional que tem definido seus objetivos clara e realisticamente não desperdiça tempo, recursos, esforços e, muito menos, energia, porque sabe o que quer e que caminho seguir. Ter objetivos é dar sentido à vida. Alcançá-los, é concretizar os próprios sonhos. Em síntese, objetivos claramente definidos são sonhos com datas fixas e pré-determinadas. Um estudo conduzido com estudantes graduados pela Universidade de Yale nos Estados Unidos corrobora com singularidade nossa argumentação. Quando questionados se tinham objetivos claramente definidos, somente três por cento responderam afirmativamente. Vinte anos mais tarde, a mesma universidade quis saber o que tinha acontecido com todos eles. E o que os pesquisadores descobriram? Pasmem, meus leitores: esses três por cento valiam muito mais, em termos financeiros, do que os outros 97 por cento, postos juntos. É evidente que esse estudo aferia apenas o progresso e nível de sucesso financeiro desses jovens. Não obstante, os mesmos entrevistadores descobriram que medidas de difícil mensuração e de natureza puramente subjetivas, como o grau de felicidade e de alegria que exibiam em relação a sua vida e carreira, eram também substancialmente superiores entre aqueles que na primeira pesquisa haviam dito ter objetivos claramente definidos.
Outra pesquisa feita no início do século XX entre seis mil participantes, e amplamente discutida pelo psicólogo norte-americano Napoleon Hill, exibiu dados semelhantes:"Um dos fatos mais surpreendentes trazidos a lume por essas 6 mil análises foi a descoberta de que 95 por cento das pessoas classificadas como fracassadas estavam em tal classe porque não tinham um objetivo de vida, enquanto os outros cinco por cento eram constituídos por indivíduos que triunfaram, não somente porque seus propósitos eram definidos, como também porque tinham planos definidos para a consecução do seu objetivo. Outro fato importante revelado por essas análises foi que 95 por cento dos que foram classificados como fracassados se ocupavam em trabalhos que não eram de seu agrado, ao passo que os restantes cinco por cento, apontados como vencedores, trabalhavam no que mais lhes agradava".
Como conselheiro para inúmeros presidentes, diretores e gerentes de grandes corporações nacionais e multinacionais, tenho constatado que a realidade nos dias atuais não difere em nada dos números constatados nos Estados Unidos. Eles refletem a mesma realidade, conforme demonstrei em artigo publicado na revista VOCÊ S.A.
Recentemente, um executivo oriundo de grande empresa multinacional em processo de outplacement me confidenciou: "Gutemberg, todo o seu trabalho de executive coaching é fantástico. Ele mexe com nossa estrutura mental, valores, filosofia de vida e trabalho, estilo gerencial, família, auto-desenvolvimento, entre tantas outras questões de extrema importância para nosso amadurecimento, crescimento e conquista de distinção no mercado de trabalho. Todavia, nada mexeu mais comigo do que a pergunta - qual é verdadeiramente seu objetivo de Vida e de Carreira? Durante muitos anos pensei tê-los. Hoje, consciente, confesso: eu não os tinha com clareza. O meu vôo era cego, pois não tinha um mapa. Assim, comportei-me, como alguém que deseja escrever, porém não tem uma caneta."
Sabe-se que muitos são os motivos que levam profissionais a adiar ou mesmo a abdicar do planejamento estratégico de sua vida. Isto é um paradoxo, visto que dedicam mais atenção e tempo ao planejamento dos negócios que gerenciam do que à própria vida, certamente inúmeras vezes mais valiosa. Os prejuízos geralmente causados são enormes e, muitas vezes, irreparáveis.
Portanto, pense em como você vem sistematicamente adiando esse exercício - o planejamento e a execução de seus objetivos de vida e carreira - durante meses ou mesmo anos seguidos, e quão bondosa e graciosamente Deus lhe tem concedido horas extras e, ainda assim, você continua adiando. O tempo passa rápido, e a oportunidade perdida jamais será recuperada. Portanto, está na hora de se conscientizar de sua importância de colocar o pé na estrada com um mapa na mão e um sonho no coração.
A importância da definição de objetivos pessoais e de carreira é auto-evidente: 1) eles nos motivam a sair de cabeça erguida em busca de nosso destino, todas as manhãs, não importa a natureza ou dureza de nosso trabalho; 2) eles nos tornam independentes e conscientes de nossa responsabilidade e destino - nós devemos ter as rédeas de nossa vida e carreira; 3) eles nos dão um sentido de destino; sabemos aonde queremos chegar; 4) eles nos dão propósito de vida, conseqüentemente, a vida e a carreira se tornam mais prazerosas, porque temos uma clara visão daquilo que ambicionamos e desejamos conquistar; 4) eles nos proporcionam uma satisfação interior e são um poderoso antídoto contra o marasmo e a mesmice, a rotina maçante e sufocante, a mediocridade mental e a pobreza, inclusive espiritual; 5) eles nos ajudam a avançar com determinação, disciplina e segurança quando confrontados com mudanças abruptas e repentinas; 6) eles impõem respeito e atenção em todas as ocasiões e circunstâncias; 7) eles nos proporcionam liberdade - tornamo-nos aquilo que desejamos ser e não o que os outros desejam que sejamos.
Meu leitor, agora mesmo onde quer que você esteja lendo este artigo, pegue uma folha de papel e caneta e responda, honestamente, às perguntas seguintes: você tem objetivos de vida e carreira, claramente, definidos ou " ingressou por acaso" em sua profissão? Você consegue explicar a lógica subjacente que o levou a fazer o que faz hoje ou sua carreira está sofrendo uma vertigem? Seus objetivos de vida e carreira estão por escrito ou são meras intenções? Que instrumentos de aferição você utiliza, a fim de medir seu progresso pessoal e profissional em todos os quadrantes de sua vida pessoal e profissional? De que recursos dispõe para concretizar seus objetivos? Quais os principais obstáculos a serem enfrentados ao persegui-los e como planeja enfrentá-los? Com que pessoas poderá contar? Esses objetivos são viáveis e compatíveis com sua personalidade e alma? Que tipo de sacrifício está disposto a fazer, a fim de se tornar um profissional vitorioso e distinto? Como você encara seus fracassos? Você sabe perder, recuar ou esperar? De em que maneira você celebra suas vitórias e conquistas? Qual foi a última vez que você se deu um presente, dizendo: eu mereço? O que você poderia fazer hoje para mudar seu destino completamente? Você acha que se repensasse e desse um novo rumo a sua vida e carreira, elas seriam melhores? Por quê?
O momento presente exige reflexão e ação, independentemente de você ser um jovem em início de carreira ou um homem maduro se preparando para a aposentadoria. Portanto, pense com profundidade sobre sua vida e carreira - hoje, amanhã e depois. Aqueles que desprezam esse exercício, quer por comodismo, quer por medo ou miopia, estão fadados ao insucesso, qualquer que seja a natureza de sua profissão. Mire-se naqueles profissionais que são bem-sucedidos, porque planejaram suas vida e carreira com consciência de destino e missão. Mantenha sempre viva em sua memória as palavras do mestre Confúcio: "Um homem que não se interessa pelo futuro tende a inquietar-se com o presente". (Os analectos 15.12)
Quando vir um profissional de excepcional valor e que possa se constituir em modelo, tanto para sua vida pessoal, quanto profissional, porque soube planejar sua vida e carreira, concretizar sonhos impossíveis, procure equiparar-se a ele ou superá-lo. E quando vir um profissional sem brilho, sem distinção, sem alegria de viver e a dizer que a vida e a carreira não foram justas para com ele, examine a si mesmo.
Gutemberg B. de Macedo Presidente da Gutemberg Consultores Prêmio Tof Of Mind 2002 e Jabuti de Cultura(1993) Especialista em Outplacement, Coaching Executivo e Conselheiro de diretores e presidentes de grandes empresa nacionais e multinacionais
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