Sabe quando você ouve uma música e fica o resto
do dia com ela na cabeça, volta e meia
cantarolando pelos cantos? Aconteceu comigo, há
algum tempo, com esta frase: "Um olho no peixe,
outro no gato!". Confesso que não me recordo de
onde li, mas sei que fui atormentado por ela por
quase uma semana, vindo e voltando, e nos
momentos mais estapafúrdios. Resolvi, então,
trabalhar o assunto, e fiz um paralelo com o
mundo mercadológico.
Identifiquei o "peixe" como o cliente de uma
empresa. Imaginei um pescador que todas as
manhãs se prepara para o trabalho, dobrando
milimetricamente sua rede de pesca, colocando
combustível no barco, conversando com os outros
pescadores sobre a fase da Lua (porque ela
influencia a atividade pesqueira), preparando
seu lanche e saindo em busca do seu cliente,
digo, peixe. Nós, profissionais de Marketing,
somos exatamente como esses pescadores mas, ao
invés de redes, nos armamos de pesquisas,
planejamentos, estratégias, informações de
mercado e campanhas de comunicação para
conseguirmos alcançar nossos clientes (e, de vez
em quando, saímos para almoçar).
No final da manhã, o pescador volta com o fruto
do seu trabalho. É hora de analisar onde
aconteceram os acertos e os erros, avaliar os
resultados, identificar o que precisa melhorar
e, principalmente, buscar uma nova forma de, na
próxima vez em que voltar ao mar, conseguir
peixes de melhor qualidade. Como um pescador
bastante experiente, ele sabe que nem sempre o
barco cheio de peixes pequenos é a melhor
solução para o negócio. Melhor, sim, é a
possibilidade de pescar menos peixes, mas bem
maiores e que atendam às expectativas de quem
vai comprar a mercadoria. Semelhança? Meça o
CUSTO de manutenção de seus clientes, e
descobrirá que, no seu barco, existem muitos
"peixes pequenos". Vale a pena investir neles?
Vale a pena utilizar suas iscas mais valiosas
para, logo depois, ter que se desfazer dos
peixinhos porque não dão lucro? Ou é melhor
buscar novas ferramentas, dirigir os esforços
para aumentar ainda mais o VALOR do seu peixe?
Pense nisso.
Voltando ao ditado, mantenha outro olho no gato
enquanto cuida do peixe, ou o felino o roubará
de você. E você poderá pensar: "Mas o
concorrente de um pescador é outro pescador, não
o gato, certo?". Nem sempre. Não são poucas as
empresas concorrentes no produto final que se
aliam em tecnologia, conhecimento, matéria-prima
e, até mesmo, mão de obra nas conhecidas
"joint-ventures". Reduzem os custos, melhoram a
qualidade dos seus produtos, conseguem praticar
preços mais interessantes aos seus clientes e,
de sobra, são beneficiadas por qualquer avanço
tecnológico que seja implementado por qualquer
uma das partes. Lembra do pescador conversando
sobre a Lua com outros pescadores? É uma troca
de conhecimento em busca do melhor para todos.
O
gato pode não ser um concorrente direto, uma
empresa que produza exatemente o mesmo produto
que outra, para um mesmo segmento e a um preço
semelhante. O gato pode ser aquela empresa que
está rondando o seu quintal, como quem não quer
nada, juntando informações, conhecendo seus
clientes, seguindo seus passos. Ele sabe como
você dobra sua rede, qual a melhor isca, horário
e local ideais para a prática da pesca e quem
são aquelas senhoras bem vestidas que compram
com você todas as manhãs. E, quando você menos
percebe - ZUPT! - dá o bote, oferecendo um
produto nem sempre melhor, mas com uma promessa
mais alinhada com os desejos do seu consumidor.
Ou seja, seu peixe foi embora.
É
vital que as empresas hoje em dia invistam
recursos em projetos de CRM para cuidar de seus
clientes, mas é importante que se construa
também, internamente, uma cadeia de
relacionamento e confiança entre empresa,
fornecedores e funcionários. A confiança é a
melhor forma de se livrar dos gatos.
Cuide do seu peixe. Identifique os que são
maiores, os que darão mais lucro, maior retorno
sobre o investimento. Tenha iniciativa de
identificar e a coragem de se desfazer dos
peixes miúdos, que nada mais fazem do que ocupar
espaço no barco, desviar sua atenção e aumentar
muito o seu trabalho. E, não se esqueça, fique
de olhos bem abertos nos gatos do mercado,
afugentado-os do seu quintal.
Ou compre um cachorro!